Filas de camiões alongam-se em França em direção ao Reino Unido
Os camionistas do norte da França denunciaram hoje uma "gestão calamitosa" do tráfego de mercadorias pesadas para o Reino Unido, cujo aumento está a causar congestionamentos à medida que se aproxima o fim do período de transição pós-'Brexit'.
Os britânicos "estão a encher os armazéns como nunca", com receio das taxas que possam ser impostas a partir de 01 de janeiro, quando expira o período de transição, afirmou o secretário-geral da Federação Nacional de Transporte Rodoviário de Pas-de-Calais, Sébastian Rivéra, em declarações à agência France-Presse.
"O plano de gestão de tráfego não está à altura e ainda não estamos no 'Brexit', isto promete! Está a ser catastrófico há duas semanas e vai continuar até ao final do ano", acrescentou.
As transportadoras que trabalham com a Grã-Bretanha há 39 anos "nunca experienciaram tal volume", prosseguiu.
Desde há várias semanas, assiste-se regularmente a um congestionamento dos eixos em direção às plataformas que atravessam o Canal da Mancha -- portos de ferry em Calais e o Eurotúnel em Coquelles -, particularmente na autoestrada.
As longas filas de veículos pesados de mercadorias estendem-se nos arredores de Calais às quartas-feiras e quintas-feiras, dias tradicionalmente marcados pela presença de um maior número de camiões, já que os motoristas tentam fazer a viagem de ida e volta antes do fim de semana.
Sébastian Rivéra sublinhou que os camionistas ficam sobrecarregados com os engarrafamentos, mas também com as intrusões de migrantes que aproveitam para tentar entrar nos reboques, afirmando que "as transportadoras não aguentam mais".
"Alguns que só trabalham localmente estão com a atividade completamente bloqueada", lamentou, considerando insuficiente a capacidade de armazenamento de camiões no porto e perto do túnel.
Segundo a autarquia de Calais, cerca de 9.000 camiões atravessam atualmente o Canal da Mancha todos os dias em cada direção, contra os 6.000 registados em média.
A 19 de novembro, um jovem migrante foi morto por um carro na autoestrada perto da entrada do Eurotúnel, onde a polícia interveio em várias ocasiões para dispersar os migrantes que tentavam entrar em camiões que formavam uma longa fila.
Ainda hoje, o assunto foi discutido durante uma visita a Calais do primeiro-ministro francês, Jean Castex.
"A proximidade do 'Brexit' incentiva contrabandistas e migrantes a escolherem o caminho mais rápido, ou seja, estamos sujeitos a verdadeiras invasões que bloqueiam o trânsito", explicou Jacques Gounon, presidente da Getlink, operadora do túnel no Canal da Mancha.
O Reino Unido deixou a União Europeia a 31 de janeiro, mas continua sujeito às regras europeias durante um período de transição que termina no final deste ano.
As negociações pós-'Brexit' foram retomadas presencialmente no sábado em Londres, após a sua suspensão em 19 de novembro devido a um caso de covid-19 na equipa comunitária.
Os dois lados estão em contrarrelógio para concluir, até final do ano, um acordo de comércio pós-'Brexit' que possa entrar em vigor em 2021, quando cessa o período de transição que mantém o acesso do Reino Unido ao mercado único europeu.
Sem um acordo que regule o relacionamento, as duas partes vão comercializar unicamente sob as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), sinónimo de taxas aduaneiras ou quotas.