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De São Lázaro a Santa Catarina

É hábito antigo isolar os atingidos por doenças contagiosas, sobretudo quando estas se revelavam mortais. Assim surgiram locais específicos para recolher e tratar esses doentes, normalmente fora das povoações. No caso de peste, isolavam-se bairros ou povoações inteiras.

Quanto à lepra, que chegou ativa até ao século XX, fundaram-se gafarias, como a que existiu em S. Lázaro, hoje bem no centro do Funchal, mas então fora de portas, do outro lado da Ribeira de S. João. O Hospital de S. Lázaro desapareceu, mas o nome ficou. O calhau de S. Lázaro foi a primeira escola de muitos adeptos dos desportos náuticos, evoluindo do remar numa canoa a velejar num iate. Também existiu uma Gafaria na Calheta, como se pode ver pela toponímia local.

Uma ilha pequena é relativamente fácil de isolar, e assim se fez em muitas ocasiões. As quarentenas eram cumpridas, normalmente em navios fundeados, embora tenha havido alguns “furadores de bloqueio”, que desembarcavam de canoa em praias esconsas…

Desativado S. Lázaro, hoje a frente de combate à pandemia passou para Santa Catarina, por força da localização do aeroporto. É lá que se trava o primeiro embate contra a pandemia, e é a partir de lá que se aplicam as regras da quarentena.

Novos encargos para Santa Catarina, que é a padroeira dos estudantes, filósofos e professores, mas não dos enfermos, como S. Lázaro.

Para os crentes, os caminhos da Providência são insondáveis. Mas, mais uma vez, parece que acertados.

Nas atuais circunstâncias, mais do que curas milagrosas, carecemos de investigação, estudo, ensino e bom senso. Ou seja, aquilo que fazem estudantes, filósofos e professores, os protegidos de Santa Catarina.

Portanto, o combate pela aplicação das regras de contenção da pandemia (porque é de um combate que se trata) faz-se pela divulgação do conhecimento que temos (e que diariamente vai sendo atualizado), pela implementação dos meios e procedimentos, e pela compreensão da verdadeira dimensão da tragédia que nos atingiu.

Nunca a Ciência foi tão invocada como agora, mas também tem sido fortemente contestada por quem não quer abdicar dos seus interesses, mesmo que prejudiquem os outros. Não é coisa nova: o problema está na dimensão, já não de uma rua, cidade ou região, mas sim planetária.

Já não se trata de uns quantos furadores de quarentena, em pequenas canoas; trata-se de aviões cheios.

Deixemos para S. Lázaro os desportos náuticos, e concentremo-nos em Santa Catarina (sem desvalorizar o Cristiano Ronaldo, herdeiro do nome do aeroporto).

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