Médico de Hospital do Porto defende que vacinar "é um acto de cidadania"
Vacinar "é um ato de cidadania" para "se alcançar uma imunidade que defenda o país", disse hoje um diretor de serviço do Hospital de São João, no Porto, onde arrancará a vacinação contra a covid-19.
"Estaremos cá amanhã [domingo] para nos vacinarmos porque vacinar é um ato de cidadania fundamental nesta fase em que nos encontramos. Ao nos protegermos a nós, estamos a proteger os outros e é para isso que esta vacina serve: para nos protegermos uns aos outros", afirmou o diretor da Unidade Autónoma de Gestão (UAG) de Urgência e Medicina Intensiva do Hospital de São João, Nelson Pereira.
O responsável falava aos jornalistas ao final da tarde após uma visita aos bastidores da "megaoperação" de vacinação que arranca às 10:00 de domingo.
Ao longo de 10 horas serão administradas 2.125 vacinas contra a covid-19 a médicos, enfermeiros, assistentes operacionais e técnicos de diagnóstico e terapêutica de serviços referenciados pela Direção-Geral da Saúde (DGS).
Com um total de 6.209 profissionais, o Hospital de São João é, a par Hospital de Santo António, também no Porto, e dos centros hospitalares de Coimbra, Lisboa Norte e Lisboa Central, dos primeiros a receber a vacina contra a covid-19, que chegou a Portugal esta manhã.
"Tínhamos mais inscritos do que vacinas disponíveis e tivemos de selecionar pessoas (...). O que posso garantir é que, à medida que recebermos a vacina, todos os profissionais interessados, e de acordo com as normas definidas pelo Ministério [da Saúde], serão vacinados", disse Nelson Pereira.
De acordo com o diretor da UAG de Urgência e Medicina Intensiva do Hospital de São João, a adesão à vacina por parte dos profissionais que preenchiam os critérios foi cerca de 90%.
"O importante é transmitirmos confiança às pessoas. Os profissionais de saúde estão confiantes nesta vacina e, por isso, responderam em massa a este desafio", disse o responsável, garantindo que "todos os que faziam parte dos critérios foram contactados" e avançando que "o importante é que não se desperdicem oportunidades".
Após a administração das doses -- que acontecerá das 10:00 às 20:00 e cujo arranque contará com a presença da ministra da Saúde, Marta Temido -- os profissionais de saúde terão de ficar meia hora numa sala de espera para vigiar possíveis eventos adversos, como reações alérgicas, por exemplo.
Nelson Pereira mostrou-se confiante de que "não ocorrerá nada muito grave", descreveu que "existem algumas pequenas reações que estão descritas e são iguais, ou muito semelhantes, às da vacina da gripe" e falou também das "normais dúvidas de última hora".
"[Até aqui] não houve muitas questões. A norma é clara e os documentos emanados pela Pfizer também são claros. É normal que as pessoas que estão grávidas ou a amamentar, bem como as que fizeram uma vacina há relativamente pouco tempo ou tiveram a doença tenham questões", descreveu o diretor, que é médico do Serviço de Urgência do Hospital de São João.
Questionado sobre a opção de não vacinar de imediato quem teve covid-19, Nelson Pereira explicou que "as pessoas que tiveram já a doença terão algum grau de imunidade", pelo que se optou por "dar lugar a outros que não tiveram".
"Temos de ter todos alguma tranquilidade. Vai chegar para todos. Este processo é fundamental para conseguirmos uma imunidade de grupo e defendermos o nosso país", concluiu.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,7 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 6.556 em Portugal.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
À semelhança de outros países da União Europeia, em Portugal a vacina é facultativa, gratuita e universal, sendo assegurada pelo Serviço Nacional de Saúde.