Turista retido no túnel critica acção dos bombeiros
"Eles iam colocar-me numa situação muito pior do que aquela em que eu me encontrava", refere Luís Araújo.
Luís Araújo foi um dos oito turistas que ficaram retidos ontem, perto de 12 horas, no túnel que liga a freguesia de Boaventura à de Ponta Delgada.
O informático que veio passar o Natal à Madeira, juntamente com a esposa e outro casal de amigos, vinha de Santana. Pelo caminho deparou-se, já, com várias pequenas derrocadas e muitas árvores caídas.
Depois do almoço num dos únicos restaurantes abertos na costa Norte, o grupo de quatro encaminhou-se para Ponta Delgada, quando uma pequena derrocada já condicionava o acesso à Via Expresso.
Com o objectivo de chegar a São Vicente, que julgavam ser a melhor decisão, acabaram por ficar retidos no interior do túnel da Boaventura, onde se refugiaram por se sentirem aí mais seguros. Em situação semelhante estava um outro casal de turistas alemães que seguiam numa outra viatura com dois filhos de colo.
Ao DIÁRIO, Luís Araújo não poupa nas críticas que faz à equipa de meia dúzia de bombeiros que, munidos de cordas, foram ao seu encontro com a intenção de o resgatar, bem como às restantes 8 pessoas presas pelas derrocadas que fecharam o túnel de ambos os lados, onde se incluía um madeirense.
O alerta foi dado pelas 15h45, através do 112. Até à chegada do primeiro socorro, não tiveram qualquer feedback das autoridades, nem tão pouco foram informados do que deveriam fazer. À medida que o tempo ia passando, ambas as bocas do túnel ficavam cada vez mais obstruídas. Só após contactos com entidades do continente, e depois de 6 ou 7 horas, chegaram os primeiros bombeiros, já passava das 22 horas. Só viriam a sair de dentro do túnel já perto das 2 horas da madrugada.
O turista português relatou ao DIÁRIO que o elemento que chefiava a equipa de bombeiros não parecia ter qualquer plano de resgate. “Apenas traziam umas cordas para nos levar por entre a lama, não traziam comida, água ou qualquer agasalho”, refere. Perante a ausência de um plano de resgate que lhe parecesse consistente e sem colocar em perigo a sua vida, Luís Araújo e as restantes pessoas presas no túnel recusaram-se a seguir as indicações que iam sendo dadas.
“Nunca estiveram organizados, nem quando enviaram uma equipa com a intenção de fazer um resgate, o qual nos recusamos em participar”, aponta, salientando que se não saíram mais cedo, tal não se deveu à falta de meios, mas sim à má gestão dos meios que estavam no terreno. “Não se deveu à falta de meios, mas sim à incapacidade das autoridades, tanto de planeamento como de organização”, sentenceia.
“Não estavam preparados para rigorosamente nada, não sabiam onde estávamos alojados, não tinham preparado nada para nos tirarem de lá, para onde nos iam levar, se para a Câmara Municipal ou para outro local. Acabamos por sair apenas quando houve garantias de que tínhamos, pelo menos, a nossa integridade física salvaguardada”.
Saíram já de madrugada, ao volante da sua viatura, atrás de um dos carros dos bombeiros. “Mérito aos operadores das máquinas pesadas que foram incansáveis e os primeiros a chegar junto de nós. Não chegaram às populações horas antes porque quem tomou as decisões nem a sua própria casa devia estar autorizado administrar”, aponta, com indignação, este turista que chegou à Madeira na passada quarta-feira e que, tirando esta ‘aventura’, viveu umas férias agradáveis.