Obras da Via Expresso poderão ter agravado destruição na Ponta Delgada
“Porque é que nós, autarcas, dificilmente recebemos notificações ou alertas”, interroga-se Miguel Freitas, ao criticar a acção do IPMA
Deitar contas à vida e aos prejuízos é o que muitos moradores da freguesia de Ponta Delgada estão a fazer esta manhã da Primeira Oitava, dia que costumava ser de festa naquela localidade do concelho de São Vicente.
Mas as chuvas intensas que ontem caíram durante todo o dia trouxeram consigo um rasto de destruição que deixou algumas habitações em mau estado. Foi numa dessas casas afectadas pelo temporal que o DIÁRIO encontrou Miguel Freitas. O presidente da Junta constata que, para já, “o que nós podemos fazer neste momento é dar algum consolo”, além de aguardar que o nível de água diminua e permita avançar com as acções de limpeza mais a fundo.
Ainda assim, neste momento, são já muitas as pessoas que estão no terreno, fazendo o possível para repor alguma normalidade, tanto na circulação automóvel, como na limpeza das habitações. O autarca destaca a disponibilidade de muitas pessoas, voluntários, e de outras autarquias da Região, nomeadamente Juntas de Freguesia e Câmaras Municipais.
Obras da Via Expresso poderão ter agravado a situaçao
“Aquilo que eu puder fazer como presidente de Junta e a título pessoal, vou fazer, não vou hesitar um segundo”. Era desta forma que Miguel Freitas reagia perante o rasto de destruição que as enxurradas de ontem deixaram numa habitação da parte baixa da freguesia da Ponta Delgada.
Os seus moradores estavam indignados, pois, por diversas vezes, terão alertado as autoridades para o perigo que a situação representava, pedindo que fosse reposto o habitual curso da linha de água que havia sido intervencionada, e que é a causa apontada como estando na origem da destruição com que agora se deparam.
O presidente da Junta refere que terá sido feita uma intervenção no início do seu primeiro mandato, mas a mesma não terá sido suficiente, uma vez que se trata de uma zona que recebe muitas águas, nomeadamente dos lados da Boaventura. Miguel Freitas falava da necessidade de obras mais profundas aquando dos trabalhos de construção da rotunda da Via Expresso, algo que não terá sido feito.
“Acho que a intervenção a ser levada a cabo devia ter acontecido antes de algumas obras que foram recentemente executadas, sobretudo na construção da rotunda [da Via Expresso], acho que deveria ter sido levada em conta esta situação. Nós na altura conseguimos aumentar o diâmetro [do ribeiro] e criámos ali uma zona de recepção de águas, mas obviamente que a quantidade de água que caiu ontem foi uma situação anormal”.
Ao DIÁRIO, o autarca refere que esta terá sido uma das casas mais afectadas, embora desse, também, conta da destruição de uma moradia de férias, no sítio dos Lameiros, local ainda inacessível, mas onde “a situação está bastante complicada”.
Vários moradores com quem a nossa reportagem foi falando exigem responsabilidade e não deixam de evocar ‘a culpa’ dos políticos nas suas queixas e lamentos.
Críticas aos alertas que pecaram por defeito
Sobre a acção do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o presidente da Junta diz acreditar no profissionalismo das pessoas, mas “dois erros gravíssimos como os que aconteceram no dia 20 de Fevereiro e ontem nos modelos de previsão, sinceramente começo a duvidar de que modelos serão esses. Não faz sentido um alerta amarelo, mais vale pecar por excesso do que por defeito”.
Além disso, questiona-se sobre o facto de o poder local não ser alertado para situações como a que ontem afectou esta freguesia do Norte da Madeira. “Porque é que nós, autarcas, dificilmente recebemos notificações ou alertas”, interroga-se relativamente aos avisos de mau tempo do IPMA e da Protecção Civil.
“Eu prefiro ter uma equipa preparada para estar no terreno e ajudar, obviamente não iremos resolver os problemas todos, mas se calhar podíamos ter feito alguma coisa”. De entre essa acção preventiva refere, por exemplo, o vedar de algumas estradas, a colocação de monte de areia ou outras estruturas a fazer de dique, desviando a água para rumos mais seguros. Nessa lista inclui, ainda, o abrir de algumas valas ou ter maquinaria pesada pronta a intervir. “Começou a chover no dia 24, às 23h20, e só parou hoje às 6 horas da manhã, se alguém nos tivesse dito que a previsão era de 20 horas de períodos de grande chuva. Eu podia ter uma equipa de alerta. Mas nós fomos apanhados de surpresa”.
Mobilizar meios não foi tarefa fácil. “Ainda por cima sendo um dia como o de ontem, dia 25 de Dezembro. Fomos apanhados de surpresa a dobrar, pois obviamente que as pessoas estavam com as suas famílias e de repente ter que acionar os meios, logisticamente foi difícil.
Quanto ao pedido de ajuda que, ontem, Miguel Freitas tinha “Para aqueles que acham que o meu pedido de ajuda, ontem, foi um bocado alarmista, cá está a resposta. Vejam o que se passa aqui, e não querendo alimentar mais polémicas, eu acho que as pessoas merecem saber a verdade. E a verdade é mesmo esta, nós passamos por uma situação aflitiva, complicada”.
A chuva que continua a cair, mesmo com menor intensidade, continua a dificultar os trabalhos.