Um “coitadinho”?
Como estudante deslocado que regressa à ilha, e aparentemente, segundo as últimas declarações dadas pelo Presidente do Governo Regional, “coitadinho”, estou muito ciente do risco associado ao regresso dos residentes à ilha nesta quadra natalícia e que nunca é demais salientar que para evitar uma situação de sobrecarga do nosso Serviço Regional de Saúde, necessitamos de comportamentos adequados ao momento que vivemos por toda a população e uma comunicação clara e lógica de diretrizes que possam mitigar a propagação desta doença.
Escrevo com indignação ao ler as afirmações prestadas por parte do Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, quando confrontado com as várias falhas que têm ocorrido em relação à realização do segundo teste de diagnóstico aos residentes que regressam à RAM, respondendo e passo a citar” coitadinhos não podem esperar 5 ou 7 dias. Alguém vai morrer?”
Pois bem, ao contrário do que o Sr. Miguel Albuquerque possa achar, quem está a provocar esta novela associada às recentes medidas impostas a todos aqueles que regressão à ilha, são as constantes incoerências dadas pelo Governo Regional. Acredito que seja lógico para o Governo que a realização de um teste fora da região autónoma é uma medida protetora e como tal, em declarações antigas pelo Sr. Presidente, foi até motivada alegando que dessa forma reduziria o tempo em isolamento na região, uma vez que, segundo a resolução nº1042/2020, (aparentemente assinada pelo próprio Miguel Albuquerque) existe a “obrigatoriedade da realização de segundo teste PCR de despiste ao SARS-CoV-2 entre o quinto e o sétimo dias, após a realização do primeiro teste PCR. Contudo, com o objetivo de camuflar falhas pouco pontuais nesta medida, diz o presidente que agora é considerando a contagem dos dias é iniciada tendo em conta a data do voo e não da realização do primeiro teste, contrariamente ao estabelecido pelo Conselho de Governo.
Coitadinhos dos estudantes ou emigrantes que leram a resolução publicada e marcaram a sua viagem de acordo com isso, coitadinhos daqueles que, nesta altura difícil, estão a pagar alojamento durante esses dias para poderem realmente proteger a sua família, coitadinhos dos residentes que certamente por uma razão imperiosa e inadiável tiveram que se deslocar para fora da região e estão agora mais uns diazinhos do que o suposto em ‘prisão domiciliaria’ e por fim, coitadinhos daqueles que vieram à Madeira e vão ter o seu segundo teste e o fim do isolamento após o voo de regresso à origem.
Considero assustador como um presidente incapaz de admitir o incumprimento do estipulado, consegue ainda caricaturar todos aqueles que regressam e que procuram seguir indicações mesmo que desproporcionais. Este tipo de posição um pouco torta, desleixada e segmentada revela pouca solidez nas medidas implementadas, e revela interesses que pouco ou nada satisfazem os madeirenses. Peço que não faça como sempre faz, referindo o “trabalho exaustivo e mesmo assoberbante dos técnicos de saúde”, mas que em vez disso, admita as falhas por parte do Governo Regional e trabalhe para as corrigir, tal como a sua função assim o exige.
Afonso André Silva