Progresso social na partilha de tarefas e parentalidade a solo
A realidade descrita no ‘Inquérito à Fecundidade – 2019’ corresponde à realidade percepcionada por Sílvia Vasconcelos, e vai ao encontro de outros estudos internacionais. A ex-deputada do PCP e membro do Movimento Democrático de Mulheres destaca dois aspectos focados que no seu entender representam progresso social: a crescente partilha das tarefas e o facto de cada vez mais homens e mulheres encararem com normalidade o criar um filho a solo.
A taxa de natalidade está a diminuir e muitas mulheres optam por não ter filhos, outras têm menos filhos e em idades mais adiantadas, como revela o Inquérito realizado pela Direcção Regional de Estatística da Madeira, hoje faz manchete no DIÁRIO. Neste levantamento há uma série de questões que são abordadas. O primeiro dos dois aspectos que saltaram à vista de Sílvia Vasconcelos e que são para ela “sinais de progresso social” é a questão da partilha das tarefas com as mulheres. “Não estaremos ainda no patamar ideia, mas é crescente”.
A ex-deputada lembra-se de ter lido que as mulheres além das suas horas diárias no trabalho remunerado trabalhariam nas tarefas domésticas mais 27 horas por semana do que os homens. “Com estes novos dados de facto isto parece que se está a esbater”, analisou.
A outra questão que entende ser importante reflectir é sobre a abertura para a parentalidade fora de uma relação. “Achei muito interessante as mulheres e os homens também, a capacitação com que eles afirmam que é possível criar, sim, um filho, uma filha sozinhos, tanto mulher, como homem”, apesar de não corresponder ao ideal que a generalidade da população tem, da família mais tradicional.
Felizmente no seu entender, hoje há vários tipos de família e formas. “Não há um padrão. Família é muito mais do que o pai, a mãe, os dois filhos e a avó. É muito mais do que isso e até pode ser menos em termos de quantidade de pessoas.”
Não há condições ideais para criar um filho, afirma a veterinária. A única situação ideal que há para criar um filho, no seu entender, é criá-lo com afecto e dando-lhe todas as ferramentas que ele precisa para construir a sua vida, em particular a educação.
O mesmo estudo revela que só 25% das mulheres na Madeira tem o número de filhos desejado e que as mulheres com mais escolaridade são as têm menos filhos e as que queriam ter mais filhos. Sílvia Vasconcelos desmistifica a ideia de que as pessoas que têm cursos têm mais dinheiro disponível. Os estudos vão empurrando a maternidade para a frente e além disso, mesmo os doutorados, não ganham balúrdios, frisa. “Ganham uma média de mil e poucos euros. Se formos fazer as contas aos nossos custos de vida, as casas são em torno de 500, se não for mais, já vai metade do ordenado. Fora outras despesas que são necessárias”. “O que é que sobra? Isto uma mulher sozinha para criar um filho”.
Além da educação, a maior ferramenta que os pais podem dar a um filho, é preciso precaver também situações de saúde e outras. “É preciso investir e tudo custa. Se houvesse maior apoio do Estado, se calhar facilitaria muito”.
A ex-deputada recorda por exemplo as famílias com dois e três filhos que queriam ir para a Universidade e que não tinham meios de financiar propinas, alojamento e outras despesas e acabaram por desistir. “Ficaram ali sonhos perdidos ou adiados porque o Estado não apoia toda a escolaridade até o patamar que se deseja”, lamentou.