País

João Durães vence Prémio João Lobo Antunes

None

O médico João Durães foi o vencedor da edição deste ano do Prémio João Lobo Antunes, com um projeto para investigar a importância dos ciclos fisiológicos no comportamento de pessoas com doenças neurodegenerativas, como a Alzheimer.

Atribuído hoje pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, esta bolsa de 40 mil euros é destinada a licenciados em medicina em regime de internato médico e pretende estimular a cultura científica e a investigação clínica na área das neurociências.

João Durães disse à Lusa que a investigação, que envolve o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, vai arrancar no início de 2021, com resultados finais esperados para dentro de dois a três anos.

Os ritmos circadianos são ciclos fisiológicos e comportamentais com periodicidade de aproximadamente 24 horas, como ritmos de sono-vigília, de repouso-atividade, de temperatura, hormonais e genéticos. Vários estudos demonstram que a perturbação do ritmo circadiano é fator de risco para doenças neurodegenerativas.

"O nosso trabalho vai basear-se numa avaliação completa do ritmo circadiano em pessoas com doença de Alzheimer ou demência por corpos de Lewy, as duas demências neurodegenerativas mais frequentes. Após essa avaliação completa, que incluiu os ritmos de atividade, de sono, hormonais e genéticos, vamos realizar uma intervenção baseada no que encontramos nesta primeira abordagem", referiu o investigador.

João Durães adiantou que um dos objetivos da investigação passa por aferir se uma "intervenção personalizada baseada nestes achados de alteração do ritmo do circadiano trará algum benefício ao nível comportamental, mas também ao nível do impacto no cuidador e na sociedade".

"Se nós conseguirmos, através destas terapêuticas, que são relativamente acessíveis, melhorar as alterações comportamentais destes doentes, teremos logo uma melhoria significativa da sua qualidade de vida, como também do cuidador e ao nível comunitário, no caso das instituições de acolhimento", referiu à Lusa.

As alterações comportamentais afetam aproximadamente 90% dos doentes com demência, sendo dos principais motivos para institucionalização e perturbação no domicílio e nas instituições.

Este estudo, utilizando a experiência de uma equipa multidisciplinar, incluindo neurologistas, neuropsicólogos e uma equipa de investigação básica com experiência na área da cronobiologia, pretende contribuir para um tratamento inovador e personalizado para doentes com demência, referiu.

Prémios Santa Casa Neurociências distinguem investigações sobre doença de Parkinson e medula espinhal

Hoje, equipas lideradas pelos cientistas Noam Shemesh e Maria Leonor Saúde vão receber os Prémios Santa Casa Neurociências por projetos de investigação sobre a doença de Parkinson e a reparação de lesões na medula espinhal.

Estas bolsas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), consideradas das mais importantes em Portugal nesta área, atribuem 400 mil euros para distinguir o trabalho de investigação científica ou clínica em áreas como a neurologia, a neuropatologia, a bioquímica, a biologia molecular, a genética molecular, a química, a farmacologia, a imunologia, a fisiologia e a biologia celular.

O Prémio Mantero Belard, no montante de 200 mil euros, destacou, nesta oitava edição dos prémios, o projeto da equipa de investigadores da Fundação Champalimaud liderada por Noam Shemesh pelo trabalho desenvolvido no conhecimento das anomalias nas redes neuronais no decurso da doença de Parkinson.

Esta investigação "tenta perceber como a informação genética altera a atividade do cérebro e a sua arquitetura", disse à Lusa Noam Shemesh, ao considerar que, na prática, vai permitir uma melhor compreensão da doença e contribuir para a possibilidade de ser detetada mais precocemente.

Considerada a segunda maior doença degenerativa no mundo, a doença de Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo que surge a partir de uma combinação de fatores genéticos e ambientais que afetam o sistema regulador do comportamento, levando à disfunção motora progressiva e declínio cognitivo, sendo mais prevalente em idades avançadas.

O projeto agora premiado pretende "entender os mecanismos" quanto à relação entre o que acontece ao nível das moléculas e a correspondente consequência comportamental, explicou Noam Shemesh.

Segundo o investigador, um exame de Ressonância Magnética (RM) poderá preencher esta lacuna no conhecimento, permitindo novos estudos longitudinais fidedignos do cérebro através de uma tecnologia à base de ondas de radiofrequência num forte campo magnético.

Esta abordagem, que poderá também ter um impacto na investigação sobre outras doenças neurodegenerativas, terá "valor clínico significativo para o diagnóstico e caracterização da doença de Parkinson em fases iniciais", permitindo ainda rastrear a progressão da doença ao longo do tempo.

Em declarações à Lusa, Noam Shemesh adiantou ainda que a bolsa de 200 mil euros vai permitir contratar mais recursos humanos e adquirir equipamentos necessários à prossecução do projeto de investigação.

O Prémio Melo e Castro, também no valor de 200 mil euros, foi atribuído à uma equipa do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, liderada pela investigadora Maria Leonor Saúde, pela investigação desenvolvida na área das lesões na medula espinhal.

Estudos desenvolvidos em modelos animais, como o ratinho, indicam que, como nos humanos, têm pouca capacidade regenerativa após uma lesão, enquanto outros, como o peixe zebra, exibem uma capacidade regenerativa excecional.

A equipa de investigadores identificou recentemente as células senescentes como potenciais moduladores do resultado regenerativo após uma lesão da medula espinhal.

Na prática, a investigação concluiu que a eliminação das células senescentes com recurso a fármacos conduz a uma "notável recuperação funcional em ratinhos lesionados", um trabalho que pode contribuir para o desenvolvimento de uma nova terapia para regeneração da medula espinhal em mamíferos.

O Prémio Melo e Castro distingue projetos que potenciem a recuperação e tratamento de lesões vertebromedulares e foi criado para promover a descoberta de soluções para a reabilitação de pessoas que sofrem destas patologias, reduzindo as limitações motoras e fisiológicas associadas.

Fechar Menu