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Que mal fizeram as famílias que têm os idosos em casa?

Nesta altura em que se fala muito nas vacinas contra o COVID19 e os planos de vacinação, parece-me importante refletir sobre algumas decisões que parecem estar a ser tomadas e que, a meu ver, põem em causa o ideal de sociedade que norteia a maioria de nós.

Como nós sabemos, dentro em breve vão começar a ser administradas vacinas, só que não existem de imediato vacinas disponíveis para todos os que as desejam tomar e, mesmo que as houvesse em número suficiente, não havia capacidade do sistema de saúde de vacinar ao ritmo que muitos de nós desejaríamos. Vai existir uma situação de escassez que é preciso resolver.

Existem muitas soluções utilizadas para resolver o problema da escassez, por isso passarei a relembrar algumas e discutir a sua utilização neste caso.

1) A solução de mercado - A solução de mercado seria dar primeiro a vacina a quem mais pagar por ela. Esta solução é, a meu ver, a ideal para a resolução da maioria dos casos de escassez do nosso dia-a-dia, funcionando via o sistema de preços, no entanto, não me parece uma boa solução para este caso de escassez, pois os indivíduos com mais posses esgotariam as primeiras vacinas o que faria com que esta demorasse muito tempo a chegar às pessoas que mais necessitam dela.

2) A solução da sorte – Esta solução consistiria em atribuir a cada cidadão um número e depois, através de uma lotaria, ir tirando os números e desta forma chegar a uma ordem de vacinação. Esta solução não me parece ser a ideal para este caso porque nesta forma de atribuição das vacinas, os felizardos ou sortudos ficariam à frente de azarados e mais necessitados.

3) A solução da ordem de inscrição ou de chegada – Esta solução consistiria em a ordem de vacinação corresponder à ordem em que os indivíduos se inscrevem ou chegam a determinado local. Esta solução não me parece ser a ideal para este caso porque nesta forma, os mais rápidos ficariam à frente de indivíduos mais debilitados e necessitados de apanhar a vacina.

4) A solução do protocolo do Estado - Esta solução consistiria em vacinar pela ordem em que as pessoas aparecem no protocolo do Estado, começando a vacinação pelo Presidente da República. Esta solução também não é a ideal pois os mais necessitados poderiam ter de esperar muito tempo para receber a vacina por se encontrarem fora dos primeiros lugares do protocolo.

5) A solução dos grupos prioritários – Esta solução consistiria em definir grupos prioritários e ir vacinando os elementos de cada grupo conforme a prioridade desse grupo. Esta parece a melhor solução porque, com o que sabemos atualmente, não tenho dúvidas que existem grupos profissionais em maior risco de contraírem o vírus e grupos etários em maior risco de falecerem caso sejam infetados com o vírus. Logo, dada esta informação, temos que tratar as pessoas de modo diferenciado com vista a uma maior justiça social, dando proteção àqueles que mais arriscam devido ao seu trabalho e àqueles que devido à sua idade mais avançada poderão ser mais um para a estatística das mortes a lamentar.

O plano de vacinação que nos foi apresentado e que põe em primeiro lugar na vacinação os profissionais de saúde, os mais idosos e quem cuida deles parece ser o mais razoável de todos os acima referidos. No entanto, não posso deixar de criticar a ideia que tem vindo a público que vai haver uma diferenciação entre os idosos que estão em instituições e os que estão nas suas casas porque não existe razão objetiva, na minha opinião, para tal diferenciação e essa diferenciação vai contra a sociedade que maioria de nós defende que é que uma sociedade inclusiva onde os idosos vivem no seu ambiente familiar.

Se é verdade que a vacina pode evitar a morte de um idoso, como explicar a uma família, cujo idoso faleceu em casa com COVID, que se a família o tivesse internado numa instituição talvez ainda estivesse vivo pois já teria sido vacinado? Que mal fez esta família e o idoso para serem penalizados pelo Estado? Que Sociedade é esta que admite este tipo de discriminação?

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