Autonomia e Universidade (III)
No primeiro dos artigos que subordinei a esta temática, rematei a opinião então expendida com a ideia de que a Universidade era um dos baluartes da Autonomia, com responsabilidade de participar na construção do seu carácter identitário. Sobre a questão do surgimento de grandes projetos atlânticos, referi que, no âmbito universitário, esses projetos já existiam. Eram a Universidade da Madeira e a Universidade dos Açores. Voltei a esta questão no artigo de setembro, porque o tema persistia acerca do debate sobre a “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-30”, da autoria do Professor António Costa Silva.
Mais recentemente, aquando da 31ª edição das “500 Maiores Empresas da Região”, o Professor Costa Silva, orador convidado da cerimónia, referiu que a Madeira tem de estar no centro da investigação climatológica e oceânica. No decurso da intervenção percebe-se que existe um conjunto de pontos de vista, relativamente ao qual não é difícil aquiescer, atendendo à importância do mar, do clima e, genericamente, da chamada economia do mar, tema tão caro a geoestrategas e a decisores.
O que não se percebe é a deriva tanto pela ideia de que “a Madeira tem o seu polo universitário”, como pela necessidade declarada de se criar “uma grande universidade do Atlântico nos Açores e na Madeira” (noutras ocasiões singularmente especificada “com um polo na Madeira”), para o estudo do clima e das alterações climáticas, quando, na mesma intervenção, se afirma que Portugal é bom em “competências funcionais”, mas falha “na continuidade das políticas”. Não é, por isso, aceitável que se queira construir de novo o que construído está.
Se é para não falhar, por que persistir no erro? A Universidade dos Açores e a Universidade da Madeira, as suas estruturas de investigação ou estruturas a ela associadas não estão alheias, nem se desinteressaram da investigação sobre as referidas áreas. A UMa está aberta a participar e a colaborar. Faça-se o investimento necessário e saberemos otimizar esse investimento, através da capacidade instalada e a instalar, bem como da celebração de parcerias interinstitucionais, nas Regiões Autónomas, no restante espaço da Macaronésia e ainda na Península Ibérica (recorde-se, a propósito, que a palavra “península” significa etimologicamente “quase ilha”).
Ampliando esse ponto de vista, a centralidade que se pretende atingir advém de um espaço de matriz “insular”, que se enquadra perfeitamente na ideia de “País Arquipélago” defendida pelo Professor Costa Silva.
A Madeira e a sua Universidade terão obrigatoriamente de fazer parte desse grande projeto.
Numa época particularmente difícil, mas não isenta de celebração e de ritualização das datas e dos acontecimentos que marcam a nossa cultura, não posso deixar de endereçar a todos os meus sinceros votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo.