Braçadeira de capitão mudou de braço no Nacional
Rúben Micael não foi capitão pela primeira vez esta época, na I Liga, frente ao Portimonense. Coube a João Camacho desempenhar essa função. O que terá acontecido?
A braçadeira de capitão mudou de braço no Nacional. Habitualmente cabia a Rúben Micael liderar a equipa e desempenhar essa responsabilidade acrescida.
Na época em curso, o médio madeirense foi capitão frente ao Boavista, Farense, Belenenses, Braga, Paços de Ferreira, Marítimo e Gil Vicente. Aliás, jogou sempre de início, embora, por opção técnica, tenha sido substituído em todos os jogos.
Só que após sete jornadas da I Liga, perdeu o estatuto até então inquestionável.
No jogo da oitava jornada, disputado no último domingo em Portimão, a braçadeira mudou de braço. Coube ao também madeirense João Camacho assumir as funções, mesmo com Rúben Micael no onze inicial.
A meio da semana, em Pina Manique, no jogo da Taça frente ao Casa Pia, coube a Rui Correia envergar a braçadeira nacionalista. Um jogo em que Rúben Micael esteve ausente.
O que é que terá levado Rúben Micael a ser preterido?
O Nacional alega que para além de Rúben Micael, há mais quatro jogadores com o mesmo estatuto. Casos de Rui Correia, João Camacho, Daniel Guimarães e Júlio César.
Aliás, quando confrontado com as razões da mudança súbita, o administrador da SAD do Nacional, Saturnino Sousa, foi peremptório: “O grupo tem cinco capitães e esta é uma forma de reconhecer também o papel e a importância de todos eles”.
A mesma resposta foi dada por elementos afectos à estrutura nacionalista. Quase todos. Mas a ‘cartilha’ não chegou a todos os dirigentes do clube, que quando contactados pelo DIÁRIO dão outra explicação. Referem que o jogador foi lesado por discordar de um dirigente. “Rui Alves tirou a braçadeira de capitão ao Rúben Micael devido a uma discussão com Gustavo Rodrigues”, asseguram, referindo que o médio madeirense ficou agastado com a desconsideração.
Gustavo Rodrigues é vice-presidente do Clube e Administrador da SAD com o pelouro do futebol profissional e ao DIÁRIO repetiu o que Saturnino Sousa já havia argumentado, por sinal, com as mesmas palavras.
Um assunto para dissipar em próximas conferências de imprensa já que importa saber o que pensa o treinador Luís Freire da mudança de braçadeira, embora seja previsível que use a argumentação oficial.
Mudanças no Benfica deram brado
Este não é a primeira polémica com capitães esta época na I Liga. Na antevisão ao Benfica-Belenenses SAD, jogo que encerrou a quinta jornada da I Liga, o treinador encarnado Jorge Jesus foi questionado sobre a entrega da braçadeira de capitão a Otamendi no jogo anterior, frente ao Lech Poznan.
"Foi uma decisão minha, como é óbvio, um pouco polémica mas sei porquê. Os adeptos às vezes vivem um contexto mais sentimental. Eu olho para os interesses da equipa de uma maneira diferente. Tenho de que ver coisas que desportivamente são importantes. Benfica tem cinco capitães, dos cinco um vai estar o ano todo sem jogar [André Almeida] e o outro, o Ruben, saiu", começou por explicar.
Mas Jorge Jesus tem mais argumentos. Conheça três:
Um capitão de equipa, na minha opinião, tem de ser alguém que saiba transmitir ao grupo toda uma liderança, pela sua experiência e personalidade, independentemente da idade dele”.
Como onde chego escolho sempre mais um capitão, olhei para o perfil dos jogadores que chegaram. O Vertonghen foi capitão do Tottenham e da seleção da Bélgica, só! O Otameni foi capitão do Manchester City e sub-capitão da Argentina, só! Têm currículo e estatuto. O Benfica vai jogar com o Standard Liège e se o capitão for o Otamendi o árbitro diz 'Otamendi, jogador do City e da Argentina'. Estatuto! Além de estatuto de Benfica neste momento, têm com experiência de balneário”.
Um capitão não é escolhido por ter muitos anos de clube, isso era no tempo do D. Afonso Henriques! Para seres capitão tens de ter argumentos. Um dos grandes capitães que tive no Benfica foi o Luisão. Hoje trabalha na estrutura. Eu percebo que não se goste, pois o Otamendi foi jogador do FC Porto, mas isso não existe no futebol mundial”.
Questionado sobre alegadas interferências presidenciais neste domínio, Luís Filipe Vieira foi claro: "Desde que estou no Benfica, nunca indiquei um capitão ao treinador. O treinador tem de ter essa autonomia”.
Na bancada do comentário foram muitos os críticos. Diamantino Miranda, que chegou a ser capitão do Benfica nos anos 80, admitiu surpresa e tristeza por ver um jogador acabado de chegar ao Benfica, Otamendi, a envergar já a braçadeira de capitão.
Lamentou que "se perca a tradição dos jogadores mais antigos serem capitães". "São os jogadores mais antigos que sabem o que é a mística do clube”, admitiu.
Que papel tem o capitão de equipa?
Apesar do falatório, ser capitão de equipa vale mais em termos pessoais e clubísticos do que no campo onde tudo se joga. Para além da troca de galhardetes, das escolhas iniciais de campo e bola e de outras abordagens pontuais feitas pela equipa de arbitragem, de acordo com o International Football Association Board, “o capitão da equipa não tem qualquer estatuto ou privilégios especiais, mas tem um certo grau de responsabilidade pelo comportamento da equipa”.
Um dos capitães do futebol português, Gonçalo Santos hoje no futebol cipriota mas antigo líder do Estoril, testemunhou numa entrevista ao ‘site’ do Sindicato dos Jogadores em que patamar essa responsabilidade pode ser exercida:
Acho que os árbitros ouvem muito mais os capitães de equipa. É óbvio que nós, muitas vezes, durante o jogo ultrapassamos o limite, mas acho que o capitão, mais do que protestar com o árbitro, tem de ajudar o árbitro. Em Portugal, os árbitros quase que não têm margem de erro, não está bonita a relação dos jogadores com os árbitros, da imprensa com os árbitros, e acho que os capitães dentro de campo têm esse papel. Procuro muitas vezes dizer aos árbitros que estamos lá para os ajudar. E digo muitas vezes aos meus colegas que não vale a pena estar a berrar e que temos é de tentar ajudá-los porque, muitas vezes, com a pressão até erram mais e não fazem aquilo por querer. Mas o jogo tem muita emoção, depois o resultado também altera muito o estado anímico e não é fácil para um árbitro gerir 22 jogadores. O capitão tem a missão de ajudar o árbitro, de tentar fazer com que os jogadores não protestem com ele. Muitas vezes até digo ao árbitro: ‘eu estou a ajudar-te, mas tu erraste’. Há árbitros que levam a mal, mas muitos aceitam a nossa opinião. E nós, capitães, temos de tentar que sejamos mais nós a falar porque depois para o árbitro também é mais fácil explicar-se só a um do que tentar entender seis ou sete jogadores a berrarem ao mesmo tempo”. Gonçalo Santos