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Eleições nos Açores resultaram numa 'geringonça' regional à direita

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O PS venceu as eleições legislativas regionais realizadas este ano nos Açores, mas, sem maioria absoluta, e com um bloco parlamentar de direita maioritário, PSD, CDS e PPM formaram governo e concretizaram uma 'geringonça' insular.

Quando, na noite de 25 de outubro, o então presidente do Governo dos Açores --- e candidato a novo mandato ---, Vasco Cordeiro, anunciou, ladeado por Carlos César, uma "vitória clara e inequívoca" do PS, já os telefones dos dirigentes dos maiores partidos da direita tocavam amiúde, com elogios ao resultado eleitoral de todos e, saber-se-ia depois, alguns contactos exploratórios para o que viria a ser o XIII Governo dos Açores.

O PS, que governou a região nos últimos 24 anos, 20 dos quais com maioria absoluta, elegeu 25 dos 57 deputados da Assembleia Legislativa Regional. Contudo, PSD, CDS-PP e PPM, juntos, conseguiam 26 assentos, e acordos parlamentares com o Chega (assinado pelos três partidos) e Iniciativa Liberal (este só firmado pelo PSD) levaram o representante da República a convidar o líder dos sociais-democratas, José Manuel Bolieiro, a formar governo.

Vasco Cordeiro e o PS não chegaram a ser convidados a "ir a jogo", numa diferença face à 'geringonça' liderada por António Costa, que só se estabeleceu após o executivo liderado por Pedro Passos Coelho, de coligação PSD/CDS-PP, ter caído no parlamento.

Vasco Cordeiro, lembrou o próprio, tinha defendido em 2015 a formação, a começo, do executivo de Passos Coelho e Paulo Portas, e, no mesmo sentido, definiu agora a indicação primeira de Bolieiro para formar governo como um "claro e inquestionável atropelo às competências do parlamento dos Açores".

O novo hemiciclo açoriano tem nesta fase 25 deputados do PS, 21 do PSD, três do CDS, dois de Bloco de Esquerda, PPM e Chega e um da Iniciativa Liberal e do PAN.

O XIII Governo açoriano tomou posse em 24 de novembro, praticamente um mês após o sufrágio, e teve o seu programa político aprovado em 11 de dezembro.

José Manuel Bolieiro, novo chefe do executivo insular, citou, quando tomou posse, Francisco Sá Carneiro, e reconheceu a "exigente missão" que tem pela frente.

"Medimos os desafios a enfrentar e sentimos a impaciência acumulada nos anos passados que sobre nós pode desabar. Mas não tememos os riscos, nem receamos a esperança. A força forja-se na luta, a firmeza no combate pelos princípios, a coragem no enfrentar da crise", declarou o social-democrata, citando uma frase de Francisco Sá Carneiro, antigo primeiro-ministro e histórico líder do PSD, acrescentando que chega ao cargo de presidente do Governo dos Açores "em tempos muito complexos, social e economicamente, mas também politicamente".

Antigo presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Bolieiro é licenciado em Direito, foi assessor nos governos de Mota Amaral (antes de o PS assumir o poder) e líder da bancada parlamentar do PSD.

Vasco Cordeiro, ex-presidente do Governo dos Açores desde 2012, decidiu manter-se no parlamento e é o novo líder da bancada socialista.

"O orgulho e honra que tive de nos últimos oito anos servir os Açores como presidente do Governo Regional é a mesma honra e o mesmo orgulho que tenho em assumir o meu lugar de deputado nesta legislatura, fazendo por honrar a confiança que os açorianos depositaram em mim", disse já sobre o tema.

A pandemia tem sido a prioridade do executivo nas primeiras semanas de atividade, tendo inclusivamente sido criada uma Comissão Especial de Acompanhamento da Luta Contra a Pandemia de covid-19, tutelada pelo médico Gustavo Tato Borges. A vila de Rabo de Peixe, em São Miguel, já teve, entretanto, uma cerca sanitária e toda a população foi testada, numa operação de grande envergadura para tentar travar a propagação do novo coronavírus na freguesia da Ribeira Grande.

Outra matéria que já causou polémica tem que ver com a SATA: o novo secretário das Finanças, Bastos e Silva, avançou em 10 de dezembro que o plano de reestruturação da transportadora tem de ser apresentado em Bruxelas até 18 de fevereiro, mas a empresa tem, antes disso, de devolver à região 73 milhões de euros resultantes da investigação comunitária a três aumentos de capital na empresa.

Fonte da Comissão Europeia afirmou, no entanto, à agência Lusa, que a investigação aberta às ajudas à SATA continua e ainda não tem data de conclusão prevista, o que levou já o PS a acusar Bastos e Silva de mentir sobre o tema e a não defender eficazmente a transportadora e a região.

O novo Governo Regional dos Açores integra 10 secretarias regionais e uma subsecretaria, além da presidência e da vice-presidência (Artur Lima, líder regional do CDS).

O programa do executivo, recentemente aprovado no parlamento açoriano, reconhece que a região "vive uma situação económica e social delicada" e que a pandemia agravou "debilidades" nesses dois campos.

José Manuel Bolieiro já admitiu nos últimos dias que tem ainda de "aprofundar o conhecimento do legado" deixado pelos governos socialistas.

"Teremos, quanto ao legado, de saber adotar uma atitude pragmática, na procura de soluções para os problemas concretos que temos. O Governo manter-se-á sereno perante as dificuldades que surjam. Recusará omitir as realidades do presente ou aceitar justificações irresponsáveis dos problemas e identificações de caminhos fáceis ou demagogia", declarou.

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