O lugar vazio da Saúde Mental Escolar no Orçamento da Região
A Organização Mundial de Saúde declarou que a saúde mental das crianças e dos jovens é uma área chave para a qual os decisores políticos devem dirigir a sua atenção e preocupações, privilegiando as estratégias de prevenção e de promoção da saúde e do bem-estar.
Nesta perspetiva e na atual conjuntura, os madeirenses esperavam que o Orçamento da Região reservasse as verbas necessárias e inscrevesse no Programa de Investimentos para 2021 a definição de um Programa de Saúde Mental Escolar, uma área com impacto preocupante entre os alunos e as alunas e tão difícil de gerir. Mas, pasme-se, nem um cêntimo previsto, não vislumbramos uma única medida política como resposta a esta problemática, porque, de acordo com o governo, já está tudo feito e a funcionar.
A nova realidade criada pela pandemia da Covid-19, agravada pelas dificuldades do contexto social, precisava de uma intervenção célere e especializada junto das crianças e dos jovens, em idade escolar. Os especialistas na área da educação e da saúde têm alertado, de forma insistente, que o isolamento social, o desemprego dos pais, os problemas com os familiares emigrados, a existência dos casos de infeção nas escolas, o confinamento em casa, a situação de contágios entre os colegas mais próximos e o regresso posterior à escola têm vindo a desencadear, entre os estudantes, problemas do foro psicológico com contornos muito graves e de extrema complexidade.
As consequências são diversificadas ao nível do rendimento escolar, da concentração, dos comportamentos de agressividade, do bullying, dos consumos do álcool e de drogas, da pressão psicológica provocada pelo receio do contágio, da ansiedade persistente, do medo obsessivo da doença, das depressões, da perda de sono e dos ataques de pânico. Neste sentido, o acompanhamento, o tratamento, a gestão coordenada e planificada de toda esta dura realidade que está dentro das escolas não pode continuar a ser desvalorizada nem se resolve com simples indicações para que os psicólogos estejam atentos.
A intervenção em meio escolar é decisiva ao nível do diagnóstico precoce, mas também, numa outra fase, na ligação às famílias, no acompanhamento integrado dos casos que vão surgindo, na formação destas famílias para lidarem com as situações mais difíceis, todavia, como o Orçamento e o PIDDAR evidenciam, estas questões não têm sido assumidas como prioridades por parte do Governo Regional da Madeira.
Seria fundamental do ponto de vista da prevenção, do tratamento e do acompanhamento especializado, estruturado e contínuo que os decisores políticos da Região apresentassem medidas e propostas de investimento para a contratação de mais psicólogos para as escolas e definissem a criação de um Programa de Saúde Mental Escolar numa parceria e articulação entre a Educação, as diversas entidades de Saúde, a Segurança Social e as instituições que trabalham com esta problemática.