Piloto infectado deu curso clandestino nas serras da Madeira
Curso de pilotagem previsto para a Ribeira Brava teve parecer negativo da PSP e realizou-se em segredo na zona das Quatro Estradas
Polícia confirmou ao DIÁRIO que já está a investigar iniciativa tendo em vista a aplicação de coima
O piloto de rali Miguel Campos, ex-campeão de Portugal e ex-vice campeão da Europa, testou positivo para Covid-19 depois de ter promovido um curso de pilotagem ilegal. A PSP fez saber ao DIÁRIO que a utilização da via pública não estava licenciada devido à pandemia e adiantou que já abriu um processo de averiguações tendo em vista a aplicação de coima à organização.
Apresentado como o 1.º curso de pilotagem na Madeira, a formação que tinha como cabeça-de-cartaz Miguel Campos previa uma componente teórica - sobre como preparar um rali, técnicas para tirar notas e técnicas de condução – e uma componente prática de condução. A formação decorreu no último passado sábado, entre as 8 e as 18 horas.
Limitado a 10 vagas, o curso contou com a presença de pilotos de rali madeirenses, alguns deles já com palmarés, que pagaram 250 euros por cada inscrição, um factor que, associado aos custos com a deslocação de Miguel Campos à Região, terá pesado na decisão da organização em evitar ao máximo adiar ou cancelar o evento.
A realização esteve à beira de não se realizar, em virtude da crise da pandemia. Sabe-se que a componente prática do curso de pilotagem estava previsto acontecer na Estrada da Furna, na Ribeira Brava, um percurso bastante apreciado pelos pilotos para fazer testes de rali.
O DIÁRIO confirmou, junto do Comando Regional da PSP, que a organização do curso de pilotagem enviou “um pedido de emissão de parecer, relativo a um evento denominado ‘Sessão de aulas práticas do curso de pilotagem de viaturas de rali’, que realizar-se-ia no dia 12 de Dezembro de 2020, num arruamento da Freguesia e Concelho da Ribeira Brava”.
Contudo, o parecer da PSP não foi favorável à realização da iniciativa, devido ao risco de propagação da doença Covid-19. “Após análise do pretendido e atentos os preceitos legais decorrentes da actual situação pandémica, bem como das recomendações da Autoridade Regional de Saúde, foi emitido um Parecer negativo à realização do mesmo”, respondeu o Comando da PSP à questões que o DIÁRIO colocou logo na quarta-feira.
A PSP não autorizou a realização do evento, mas o curso prático de pilotagem foi mesmo para estrada. Não na Ribeira Brava mas num troço viário na zona das Quatro Estradas, junto a um ramo de ligação à Estação de Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos da Meia Serra, nas serras dos limítrofes dos concelhos de Funchal e de Santa Cruz. Tudo à revelia da PSP.
“Este Comando Regional não teve conhecimento nem foi accionado para o suposto evento que terá ocorrido na zona das Quatro Estradas”, confirmou a autoridade policial. Por esse motivo, o comandante regional, Luís Simões, fez saber ao DIÁRIO que “encetará um conjunto de diligências policiais, no sentido de confirmar ou infirmar o teor das mesmas, sendo certo que, em caso positivo, poderão daí advir responsabilidades contra-ordenacionais, imputáveis ao organizador do evento em causa, por ausência de licenciamento para realizar tais actividades na via pública”.
Organização escusou-se a abordar questão do licenciamento
Na quarta-feira, o DIÁRIO contactou o organizador da iniciativa, Bruno Rocha, que se limitou a confirmar a realização do curso de pilotagem. Escusou-se a abordar a questão do licenciamento assim como afirmou desconhecer que Miguel Campos testara positivo para covid-19.
O DIÁRIO tentou também ouvir Miguel Campos desde a passada quarta-feira, mas o piloto nacional não esteve disponível.
Piloto orientou o curso quando aguardava resultado
A RTP-Madeira noticiou ontem que Miguel Campos viajou com um teste rápido de pesquisa antigénio negativo, um tipo de teste que não é aceite pela Autoridade de Saúde da Madeira.
Obrigado a fazer um teste PCR à chegada ao Aeroporto da Madeira, o piloto não cumpriu o isolamento a que estava obrigado e foi orientar o curso sem antes procurar saber o resultado do teste.
Segundo a estação pública, o piloto acabaria por dar o curso durante todo o dia, não atendendo o telefone às entidades que o queriam alertar para a sua condição de infetado por Covid e com isso correr o risco de infetar outras pessoas.
Só à noite, num jantar que aconteceu num restaurante na zona do Garajau é que o grupo ficou consciente que Miguel Campos testara positivo e que como tal estava infetado com Covid.
A RTP-M acrescenta que apesar de alertado para a sua condição de infectado, Miguel Campos viajou de regresso ao continente, podendo ter contagiado passageiros do seu voo.
Miguel Campos, por sua vez, apresentou à televisão uma versão diferente: “Entrei na Madeira com um teste negativo, feito por uma entidade certificada pela Direcção Geral de Saúde e até a hora que falo consigo ninguém informou me de qualquer teste positivo”.