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Da sala de aulas para um ecrã em quatro dias

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A pandemia de covid-19 levou as aulas para dentro de casa em tempo recorde, e criou uma versão moderna da Telescola. A máscara passou a ser material obrigatório no regresso à escola e já ninguém estranha quando alguém falta.

O ano de 2020 fica marcado pela pandemia, que provocou mudanças repentinas na educação. De repente, as famílias ficaram fechadas em casa, o ensino passou a ser à distância, houve provas nacionais anuladas e um ano letivo mais longo.

Bastaram duas semanas desde que apareceram os primeiros casos positivos de SARS-CoV-2 em Portugal, em 02 de março, para que o país assistisse ao encerramento de creches, jardins de infância, escolas e instituições de ensino superior.

Em 16 de março, quase dois milhões de crianças e jovens ficaram em casa: as creches e jardins de infância fecharam as portas a cerca de 250 mil crianças, 1,2 milhões de alunos do 1.º ao 12.º ano trocaram as aulas presenciais pelo ensino à distância, assim como os cerca de 400 mil estudantes do ensino superior.

Apenas um restrito grupo de docentes e assistentes manteve algumas rotinas pré-pandemia e continuou a ir diariamente à escola para garantir que os alunos mais carenciados tinham refeições quentes.

Meio milhar de estabelecimentos de ensino ficou aberto também para receber os filhos de quem tinha empregos considerados essenciais na luta contra a pandemia.

Todos os outros professores e restantes funcionários ficaram em casa, mas o trabalho não parou.

Em apenas quatro dias, desde que o Governo anunciou a suspensão das aulas presenciais até ao arranque do ensino à distância, as escolas tiveram de se reinventar. As novas formas de ensinar revelaram fragilidades e vieram acentuar o fosso entre alunos carenciados e privilegiados e veio adensar o receio de um aumento de insucesso e abandono escolar.

Nem todos tinham equipamentos ou acesso à Internet: mais de 50 mil estudantes do básico e secundário estavam 'offline'. Aos professores coube a tarefa de encontrar estes jovens assim como soluções para os manter ligados.

Através de parcerias, as escolas fizeram chegar computadores a casa de alguns alunos enquanto outros recebiam encomendas com fotocópias de TPC e matéria.

Muitos professores também tiveram dificuldades em adaptar-se à mudança. Quando nas escolas a maioria dos docentes tem mais de 50 anos, trocar a tradicional sala de aula por um espaço virtual nem sempre é tarefa fácil.

Faltava formação para utilizar as novas ferramentas e para que as lições 'online' conseguissem cativar a atenção dos alunos.

Os professores queixaram-se ainda de falta de orientação. Nos primeiros tempos, cada docente escolheu a sua "sala de aula virtual", obrigando os alunos a saltar de plataforma em plataforma. Outros optaram por usar apenas o 'email' como ferramenta de trabalho.

Se algumas escolas fizeram uma transição relativamente pacifica, houve outras que nunca conseguiram sequer ter todos os alunos presentes.

Uma solução encontrada pelo Governo foi a readaptação de um clássico do século passado: um mês após o encerramento das escolas, começou o #Estudo em Casa, uma versão moderna da Telescola que funcionou entre 1965 e 1987.

A estreia fez disparar as audiências da RTP Memória, com mais de 42 mil espetadores a assistir às aulas transmitidas em 20 de abril.

Também as creches reabriram em 18 de maio. Depois de dois meses fechados em casa, os mais novos e os mais velhos regressaram à velha escola com novas regras.

Para todos, passou a haver corredores de circulação, mais higienização dos espaços, distanciamento e turmas a funcionar em "bolhas". As máscaras passaram a fazer parte do material obrigatório, sem a qual não podiam entrar na escola.

Em maio, os estudantes do 11.º e 12.º anos de escolaridade voltaram a ter aulas presenciais e foram os únicos que fizeram exames nacionais, já que os alunos do 9.º ano ficaram livres das provas nacionais e os mais pequenos não fizeram as provas de aferição.

O ano letivo teve mais semanas de aulas, atrasando o calendário de acesso ao ensino superior.

Os exames nacionais começaram mais tarde, as regras de avaliação das provas nacionais foram alteradas e deixaram de contar para a nota interna dos alunos.

A boa notícia chegou do Governo, que revelou que 2020 foi o ano em que mais alunos se candidataram ao ensino superior. Resultado: quase 53 mil alunos conseguiram uma vaga no Concurso Nacional de Acesso, mais 15% do que no ano anterior.

As instituições de ensino superior também fecharam portas em março e trocaram o ensino presencial pelo ensino à distância.

Um dos maiores problemas durante o confinamento foi o cancelamento dos estágios, em especial os da área da Saúde.

As novas regras de distanciamento fizeram diminuir as camas disponíveis nas residências para estudantes e o Governo criou um programa que permite aos alunos ficar em hotéis, pousadas da juventude ou unidades de alojamento locais a preços controlados.

No entanto, o novo ano letivo recomeçou em setembro sempre sob a ameaça de um possível contágio.

Das escolas chegaram pedidos de mais professores e funcionários para garantir o cumprimento das regras da Direção-Geral da Saúde. Os sindicatos reivindicaram que os docentes de grupos de riscos de covid-19 pudessem ficar em casa a dar apoio através do ensino à distância. O Governo atendeu ao primeiro pedido e recusou o segundo.

O receio de contágio persiste, mas as escolas permanecem abertas. No entanto, passou a ser normal faltarem alunos, professores ou funcionários. Uns porque estão doentes, outros por prevenção, em isolamento profilático.

Nem todos conseguem manter-se ligados às aulas, apesar de o Governo ter prometido que este ano haveria computadores e ligações para todos.

O programa Escola Digital arrancou na segunda semana de novembro, quando começaram a chegar às escolas os primeiros 'kits' de computadores, que foram entregues aos estudantes do ensino secundário mais carenciados (do escalão A da Ação Social Escolar) sem equipamentos eletrónicos em casa.

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