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Outra crise, os mesmos erros...

Por vezes passam-se os anos e parece que nada de relevante acontece, e subitamente em 2020, parece que aconteceu tudo ao mesmo tempo. Desde 2008 que estava a Europa a trabalhar para se recuperar de uma crise económica, e pouco tempo depois ter emergido de uma crise longa e profunda, vê-se no centro de um novo furacão que a empurra novamente para um novo ciclo recessivo. Não tivemos tempo de tomar fôlego e claramente nem tivemos tempo de aprender com os erros, uma vez que estamos novamente a cometer os mesmos erros, que nos acabarão por empurrar para uma recessão mais longa e profunda que a anterior.

No nosso país, o coronavirus está a provocar um choque na procura pela redução no consumo de produtos e serviços mais identificados com o risco de contágio. No caso particular da Madeira, o sector hoteleiro está a sofrer uma paralisação sem antecedentes, que afeta outros sectores como a restauração. Basta dar uma volta pela Zona Velha, para verificarmos o alcance desta paralisação. Como sabemos, a crise económica atual teve origem num evento extremamente raro, mas que segundo alguns especialistas começará a ocorrer com maior frequência. Ao contrário do que se fez na China, o World Economic Outlook só muito recentemente incluiu nas suas previsões um eventual risco pandémico antevendo os efeitos que este tipo de eventos poderá ter na economia. Ninguém estava preparado para isto, e por isso foi preciso improvisar.

Está claro que o bom improviso português, o “desenrascanço”, só pode correr mal quando temos pela frente uma recessão económica a nível mundial, que afeta simultaneamente economias desenvolvidas e em desenvolvimento, cujo impacto é cerca de 5 vezes pior quando comparado com a crise de 2008. Já em 2008 ninguém acreditava que a falência de um banco de investimentos Americano Lehman Brothers, pudesse afetar o sistema financeiro mundial, provocando uma crise soberana, que colocou muitos países numa situação de défices orçamentais muito elevados e com rácios de dívida pública em trajetórias insustentáveis. Mas foi isso que realmente aconteceu.

A atual crise económica está a ter um efeito muito negativo na procura interna e na procura externa. O efeito na procura interna só não é pior, porque o rendimento das famílias ainda não sofreu o impacto esperado, por estar suportado pelas medidas do governo de apoio ao emprego e às empresas. Tal como aconteceu em 2008, continuamos sem uma política económica séria, pró-activa e pouco orientada para o futuro.

Este erro, que insistimos em manter, irá custar muito caro durante o período pós-pandémico. O nosso governo continua a insistir numa política económica populista, inútil e desenhada unicamente para ir respondendo às exigências da pandemia. Entretanto, aumenta a dívida pública sem as necessárias intervenções para corrigir o presente e melhorar o futuro. É fácil implementar medidas que mantenham a dinâmica do consumo e aguentem, na medida do possível, o desemprego. O que os diferentes governos não conseguiram fazer na crise de 2008, e que continuam sem conseguir fazer na atual, é aproveitar este momento para reestruturar a economia definindo um novo caminho para o futuro.

Na Europa, durante a década passada, pagamos caro a ausência de instrumentos específicos para enfrentar a crise. Agora, é no mínimo exigível ao governo, que aprendendo com os erros do passado, seja capaz de utilizar os fundos da União Europeia para definir a sua aplicação em medidas eficazes de combate às consequências desta pandemia, mas sem esquecer que é necessário preparar o país para um futuro que será seguramente bem diferente do que atualmente conhecemos.

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