Máscaras

Escreveu Sophia de Mello Breyner no seu poema “PORQUE”:

“Porque os outros se mascaram mas tu não… Porque os outros se calam mas tu não…”

Vivemos numa sociedade submergida no medo da Pandemia, mas o medo há muito que faz parte das rotinas diárias de uma grande parte da mesma.

E só não tem medo, ou melhor, só não demonstra medo, aquele que se mascara quotidianamente e rotineiramente, aquele que consoante os seus objetivos, as suas obsessões e a sua consciência, ou melhor pela absurda falta dela, se deixa mascarar para poder assim ludibriar a grande fatia da sociedade que gosta e valoriza quem finge ser aquilo que não é, ou seja todos aqueles que adoram quem se adorna com máscaras, pois assim se parecem mais com o seu próprio eu.

Vivemos numa sociedade refém dos pensamentos circulantes e castrantes das redes sociais, aqueles que tudo mascaram e desmascaram, sem contudo nunca terem o papel de elucidar, esclarecer, ou de tão só construírem a necessária consciência critica e criativa dos demais.

Vivemos numa sociedade em que se estigmatiza quem ousa pensar diferente, quem ousa ser diferente, quem ousa ser simplesmente autêntico e genuíno, vivemos numa sociedade de fantasia, e como tal a máscara é adereço fundamental e essencial para quem quer estar de bem com o mundo, nem que para isso, esteja de mal consigo mesmo!

Vivemos numa sociedade que cada vez é mais difícil desmascarar os mascarados, não pela dificuldade intelectual intrínseca ao acto em si, mas pela quantidade de mascarados que deambulam entre nós.

Vivemos numa sociedade muito mais refém, espiritual e cognitivamente, do que qualquer efeito similar fruto da actual pandemia. Vivemos numa sociedade em que o maior vírus, em grande parte, SOMOS NÓS!

Como humanos somos providos, ou deveríamos ser, pois isso é o que nos distingue dos restantes seres vivos, de um mecanismo de construção e formulação de pensamentos e ideias, em súmula, a razão. Razão essa sobre a qual assentaríamos as nossas decisões e por conseguinte, fruto das mesmas, e em consequência, as nossas acções.

Hoje, vivemos numa sociedade cada vez mais órfã destes singulares, mas fundamentais, mecanismos de construção de pensamentos e raciocínios, essenciais que são, foram e sempre serão.

Hoje vivemos e somos um produto de tudo aquilo que nos impingem de forma fácil, rápida e quase sempre de forma gratuita, mas não fortuita!

Hoje é quase um crime, ter ideias, ter pensamentos e criações heterodoxas, e tal sacrilégio dá azo às mais terríveis construções dogmáticas e a algo muito mais perverso que são os extremismos ideológicos, que sabemos todos, muito bem, para onde nos conduzem, infelizmente.

Pensar de forma livre e espontânea, criar sobre estes mesmos pensamentos, é hoje, quase, um crime!

Hoje, vivemos numa sociedade onde somos “castrados” nos mais básicos direitos do Homem, hoje mais do que nunca, quem pensar e for diferente, é alvo imediato de uma tentativa de castração, uma castração do fundamental processo existencial do ser humano, o seu livre pensamento e a formulação ou transformação desse mesmo pensamento em algo mais concreto e útil para a sociedade.

Já dizia Ary Dos Santos:

“Serei tudo o que disserem: Poeta castrado não!”

“O que o rebanho mais odeia é aquele que pensa de forma diferente, não é tanto a própria opinião, mas a audácia de querer pensar por si mesmo, algo que eles não sabem fazer.”

Arthur Schopenhauer

Celso Sá

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