Não, não são desabafos!
I. “Esta semana foi uma boa semana para testarmos a consolidação das obras que efectuámos. Choveu mais do que no dia 20 de Fevereiro e as ribeiras portaram-se muito bem, aguentaram muito bem toda a quantidade de material que desceu e os taludes têm apresentado também uma boa consolidação de material”. Estas são palavras do vice-presidente do governo.
À sua falta de seriedade intelectual juntam-se agora de forma inequívoca, e sem rodeios, a mentira e a má-fé. Ele sabe perfeitamente que o que está a dizer nada tem de verdade. E que nada é comparável. Nem a quantidade que choveu (e felizmente que o DN conseguiu os dados que costumam estar no segredo de certos deuses), nem o tempo durante o qual choveu. Nem nesse dia, nem nos anteriores. Os solos não estavam saturados como estavam no 20 de Fevereiro. Os taludes não escorregaram porque não tinham condições de instabilidade e o peso dos terenos empapados, que é determinante, não existiu. E não venha dizer que tudo resulta do trabalho nas cabeceiras das ribeiras! Acha que qualquer intervenção de limpeza e florestação dá resultados à velocidade com que o senhor preenche as folhas de excel das suas contas e orçamentos? Não, não dá. Os ciclos da Vida e da Natureza não são os seus. E felizmente que não choveu porque, se se repetisse um 2010, ainda hoje chorávamos a desgraça. Em 2010 houve um aluvião no Funchal; agora correu água. Não misture as coisas.
Fazer jus ao seu nome – estar calado – é pedir muito, eu sei. Como sei que com as suas palavras quis ‘justificar’ o crime ambiental e patrimonial que o seu governo cometeu contra as muralhas das ribeiras. E é aqui que entra a má-fé. Para enganar pessoas sem formação nem conhecimento. Para ver se nos esquecemos e se acreditamos nas suas aldrabices. Pedro Calado não merece o lugar que ocupa. Falta-lhe categoria, honestidade, ética. E até lhe falta empatia. É sobranceiro e arrogante! E muito mal-criado! Se chegou onde está, agradeça às sempre-eternas linhas cruzadas. Em microbiologia chamamos a isto contaminação cruzada. É isso: Calado é uma contaminação cruzada!
2. Marta Temido emocionou-se num destes dias e lágrimas desceram dos olhos. Fez um esforço acrescido e aguentou-se. E continuou! Não tardou muito que os abutres a trucidassem. Ou melhor, a tentassem trucidar.
Eu, que sou bióloga, e que tenho diversos médicos amigos, digo com toda a franqueza: é inimaginável para todos! É inimaginável o que é ter que lutar contra um inimigo novo, completamente desconhecido, que não vemos, com características verdadeiramente filhas da mãe, com efeitos que ainda hoje não conhecemos totalmente, que tem uma extraordinária capacidade de mutação, que tem um extraordinário poder infeccioso, que atinge todo o mundo e põe milhares de cientistas num frenético trabalho de investigação. E ainda por cima, com aparentes certezas de hoje dramaticamente desmentidas amanhã, com a ciência a apontar, hoje, um caminho que leva afinal a uma estrada sem saída, e há que fazer marcha atrás às escuras – e com tudo isto, e apesar de tudo isto, dar a cara todos os dias há 9 meses!
A quantidade de cientistas de sofá que este país tem! A quantidade de gente que fala do que ‘acham’! Já que ‘sabem’ tudo, não percam tempo a crucificar a ministra; vão trabalhar, se algum laboratório de investigação vos aceitar…
Sabem - só um pequenino exemplo - que nunca foi conseguida uma vacina para outros coronavirus? Isto dá uma ideia da complexidade, não? Caramba!!!
E já agora? Todos nós recusámos ir àquela festa de amigos ‘sem problemas’, seguros, onde dispensámos a máscara, mas não o abraço, o beijinho, a partilha do copo de cerveja?
Todos nós impedimos os nossos filhos de ir para haloweens (ok, não se pode mas é tudo gente porreira)… e depois, ops, de repente e do nada, alguém testa positivo?
Todos cumprimos escrupulosamente as regras de uso da máscara ou continuamos a usá-la no queixo, no bolso, ou embrulhada com a chave do carro?
Todos asseguramos o afastamento pessoal, a lavagem e desinfecção das mãos?
Sim, estou a defender a Ministra da Saúde, sim! E a agradecer-lhe!