A culpa é da molhelha
Boa noite!
Há manifesto eleitoralismo no debate em torno do Orçamento da Região. E não devia haver. Governo e deputados deviam estar ao serviço de um povo que desespera por soluções práticas que atenuem os impactos da crise sem precedentes em vez de estarem focados no próprio umbigo, no sufrágio autárquico marcado para 2021, nas possíveis conquistas, em alguns ajustes de contas e nos eternos favores que dão votos.
Deixem-se de joguinhos que dão pena, de queixinhas domésticas inconsequentes, de culpabilizações excessivas de terceiros e de vitimizações que sustentam a velha tese popular que quando alguém não pode com a carga, tende a culpar a molhelha. Chega de farsa, de gritaria e de fraca memória, venha ela da maioria engendrada ou da oposição nem sempre convicta.
Como me dizia um amigo esta manhã, há um mundo real que os políticos parecem desconhecer. Ou por não fazerem a mínima ideia do que se está a passar, alheamento que para além de grave é vergonhoso, ou por manifesta incapacidade de inverter situações dramáticas, o que denota incompetência qualificada. Falava-me ele de alguém conhecido que ganha actualmente uma esmola de 93 euros mensais que não dão para honrar os compromissos assumidos; ou do camarada de luta que ganha 2 euros à hora, menos de metade do que arrecadava antes da pandemia; ou ainda da vizinha dita trabalhadora independente que apesar de ter tratado de toda a papelada exigida ainda não viu um cêntimo que o governo garantiu dar aos que passam recibos verdes.
Esta gente existe e não tem tempo de antena. E é por isso que há uma revolta para já contida, porque há medo e fome, mas que pode ganhar outros contornos se o tribuno gabarolas, seja ele de que cor for, continuar a papaguear em vez de ouvir, a burocratizar em vez de descomplicar, a prometer em vez de agir. De que é que estão à espera?