Consulta popular na Venezuela confirmará que oposição é maioria
A deputada opositora lusodescendente Fátima Soares apelou hoje aos eleitores lusos e venezuelanos para participarem na consulta popular promovida por Juan Guaidó porque, alega, permitirá confirmar que a oposição é maioritária e que a população quer mudança de regime.
"Eu não posso tirar o medo às pessoas. (Elas) estão no pleno direito de decidir se querem participar ou não, mas convido a participarem da consulta popular. Têm a oportunidade de o fazer digitalmente, pela internet e não há como saber quem participou ou não, o que é também uma forma de proteger a integridade das pessoas, mas é uma oportunidade para opinar sobre o que estamos vivendo", disse a deputada lusodescendente à agência Lusa
Militante do partido Primeiro Justiça, Fátima Soares, explicou que se trata de uma oportunidade para o povo se pronunciar.
"Se queremos continuar a viver nesta ditadura, se aceitamos a fraude de 06 de dezembro (eleições parlamentares), e se necessitamos de ajuda internacional porque estamos a sofrer de uma crise humanitária complexa, da qual faz parte a fome que muitos venezuelanos estão passando", vincou.
"A expectativa (de participação) vai ser muito maior, porque isso percebe-se, quando saímos à rua e vemos gente histérica, zangada, nas filas, porque esperam horas e dias para abastecer de gasolina num país petrolífero que vendia gasolina a outros países e agora também tem que a comprar, porque permitimos a destruição da PDVSA (empresa estatal de petróleo), todas as indústrias e serviços básicos, água, eletricidade, tudo", afirmou.
Por outro explicou que a situação no interior do país é mais grave que na capital mas que "em Caracas, já 70% da população do está a dizer que a sua qualidade de vida está a diminuir, que a água é de má qualidade, que chega muito poucas vezes e que a Internet, que é outro serviço público, é o pior do mundo".
"Obviamente no interior é pior, mas, por exemplo, na questão dos alimentos, eles podem plantar no interior, nós em Caracas não podemos cultivar, dependemos deles, dependemos da gasolina para transportá-los até aqui (...) é terrível que nos tenhamos de conformar", frisou.
Segundo a deputada, em Caracas, 80% dos venezuelanos queixam-se de que o salário não chega para comprar alimentos e mais de 73% come menos de três vezes por dia: "as pessoas estão subalimentadas".
"Uma caixa CLAP (alimentos subsidiados pelo Estado, distribuídos em média a cada três a quatro semanas) traz apenas três quilogramas de arroz, três de farinhas e um de açúcar", acusou.
Por essa razão a deputada questiona se "é a alimentação que um povo se merece, num país com tantos recursos", sublinhando que "há que continuar a lutar pela mudança. As pessoas querem uma mudança".
Sobre o futuro do líder opositor Juan Guaidó, explicou que mesmo depois de os deputados eleitos nas legislativas de 06 de dezembro, em que a oposição não participou, por considerar que eram "uma fraude", continuará a ser "o líder da Assembleia Nacional, continuará a lutar pela mudança" que os venezuelanos querem.
"A consulta popular é a oportunidade que os venezuelanos têm de saber quantos realmente somos. Até agora as pesquisas dizem que mais de 80% da população não quer (Nicolás) Maduro, quer uma mudança, quer sair deste desastre. Que mais de 80% da população está disposta a participar em eleições se houver condições eleitorais, inclusive se forem presidenciais, para sair desse desastre", disse.
Mas, explicou, "são as sondagens, a nível de amostras. A Estatística é uma ciência, mas na realidade a consulta popular vai permitir saber, em números absolutos, quantos realmente somos", frisou.
No domingo, a aliança de partidos que apoiam o Governo do Presidente venezuelano Nicolás Maduro venceu as eleições legislativas, com 67,6% dos votos, quando estavam contabilizados 82,35% dos boletins, anunciou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
A oposição, aliada do presidente do parlamento, Juan Guaidó, não participou nas eleições e convocou uma consulta popular contra Nicolás Maduro e contra as eleições legislativas que começou na segunda-feira, dia 07 de dezembro, de forma digital, e termina no sábado, dia 12 de dezembro (dia que a oposição diz ser o mais importante), de maneira presencial, em 7.000 mesas de voto de 3.000 lugares do país.