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Só mesmo à TAPona

Tenho viajado o mínimo possível, mas de vez em quando tenho de me meter num avião e sair da Madeira. Acredito que, com o tempo, vou voltar a viajar com segurança, mas as últimas vezes foram um exercício algo atribulado, até porque não consigo entender a política da ainda companhia de bandeira. Apesar de muitas vezes ter discordado de Alberto João Jardim, tantas quantas as que concordei, não posso deixar de lembrar que ao longo de várias décadas (e vários governos nacionais, do PS e PSD), o ex-governante madeirense disse que a solução para a empresa era fechar num dia e abrir no seguinte, com o novo nome. Goste-se ou não do estilo, o tempo vai acabar por dar razão ao homem, porque já dói ver um país neste estado a injetar o que tem e o que não tem na companhia. E gente a morrer à fome. Só mesmo à TAPona.

Há dias comentava com uma das minhas amigas assistentes de bordo que me fazia confusão pedirem para manter o ar aberto numa viagem e noutra pedirem para o manter fechado. Ainda pensei que ia duvidar de mim, mas acabou por me dizer que, ela própria se viu obrigada a ler as duas versões em dois voos em que trabalhou. Alguém leva isto a sério? Voltei a passar por isso em Novembro, numa ida num dia e no regresso no seguinte. Agora abre, agora fecha. Mantive o distanciamento social no aeroporto, o que não se torna difícil porque saiam apenas 6 voos nesse dia da Madeira e cinco no dia seguinte, mas depois entrei num avião onde me enchouriçaram ao lado de um ilustre desconhecido. Pedi um café, tirei a máscara e durante uns vinte minutos fui uma mulher feliz. Mesmo depois de ter pago dois euros por um café instantâneo que eu própria fiz, porque à medida que o café fica mais caro, o passageiro trabalha mais. Enfim, fiquei entretida a virar o ar para outro lado, pois as ordens eram para não o fechar. No dia seguinte, enchouriçaram-me dentro de um autocarro que esperou cinco minutos para a porta do avião abrir e não me pediram para me manter distante de ninguém. Ainda pensei na hipótese do tejadilho, mas a chuva e o juízo mantiveram-me dentro do dito com metade dos passageiros do avião, as mãos a se segurarem todas nos mesmos varões (do autocarro, claro). Subimos, todos juntinhos, enfiámo-nos todos no avião de regresso onde nos pediram para manter as saídas de ar fechadas, por causa da bendita Covid. Não devia ser a mesma Covid da véspera, pensei eu. Só mesmo à TAPona.

E depois, provocam-nos com o cafezinho e as batatas gourmet, cheios de vergonha atrás das máscaras com que têm de trabalhar. Alguns deles, na companhia antes dos brasileiros e dos americanos que por ali esvoaçaram, nunca se atreveram a pensar que a TAP ficaria neste estado. Vá lá que muitos já não têm de oferecer sorrisos amarelos e agora até lhes podemos deitar a língua de fora, porque afinal, ninguém percebe.

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