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Sair da ilha sem sair da Madeira

A vida é uma lição constante, repleta de erros. Não conheço quem nunca os tenha cometido, ainda que conheça quem nunca os reconheça

Não duvidem: o combate colectivo que travamos hoje é mesmo o mais importante das nossas vidas. Com a excepção das gerações que conheceram as amarguras da guerra e da ditadura, tudo o resto é absolutamente incomparável às consequências sanitárias, económicas e sociais da pandemia que enfrentamos. É estranho que, mais de meio ano depois, tantos e tantos não tenham compreendido ainda a dimensão do tempo excepcional que vivemos e daquele que viveremos durante, pelo menos, mais alguns meses. A cada dia que passa, começa a parecer mais certo que nada será como dantes, porque não se recuperará depressa das consequências de tão desigual combate. Quem ainda não o compreendeu, considerando que as evitará ou superará sozinho, ou, em alternativa, utilizando fórmulas discursivas gastas que pouco ou nada de concreto acrescentam, será, mais tarde ou mais cedo, confrontado com a inevitabilidade do tempo que quase sempre confirma o evidente.

Tempos absolutamente excepcionais exigem de todos nós atitudes excepcionais: no nosso dia-a-dia, na nossa vida pessoal, familiar, profissional e também política. Confrontados com a segunda onda desta pandemia, bem mais grave em toda a Europa do que a primeira, não hesitei por um momento que fosse em juntar-me a esse combate onde me senti mais útil, dando uso ao meu ainda jovem percurso académico, profissional e político e contribuindo com a energia de mais um numa luta de tantos, perante a dimensão extraordinária do desafio que enfrentamos. Mas noutro tempo, confrontados com escolhas sobre servir, outros também fizeram as suas para servirem a Madeira e o país da melhor maneira que sabem, mesmo quando isso implicou sair da ilha. Há dois exemplos nas novas gerações que, por estima pessoal e mérito público reconhecido, não ignoro: os da Sara Cerdas e do Olavo Câmara, que são a voz de uma geração cuja força não é possível apagar e a quem ninguém pode pedir que seja apenas mais uma, igual a todas as anteriores. Se a Sara Cerdas tem demonstrado, todos os dias, no Parlamento Europeu e na Madeira, a importância de termos profissionais altamente diferenciados na área da Saúde Pública a tomarem decisões políticas decisivas para a vida de todos nós, confirmando as qualidades da escolha e a coragem da aceitação, o Olavo Câmara, na discussão do Orçamento do Estado que continua a decorrer, tem demonstrado diariamente, mais uma vez, a importância de termos quem defenda a Madeira acima de tudo o resto, somando à experiência da bancada, a irreverência e o desprendimento da juventude. Quando o mais fácil era continuarem o percurso académico de excelência na Suécia, ou o inevitável percurso político de 6 anos na Madeira, um e outro estiveram à altura e escolheram servir a Região noutros palcos.

Quando, na vida pública e política, passamos a vida a ouvir falar na importância de renovar as organizações, aquilo a que assistimos reiteradamente é à tentativa de alguns, frustrada porém, de sistematicamente procurarem desqualificar uma nova geração de actores políticos a quem, insisto, não vale a pena pedirem que seja igual às outras. Que diga que vem para fazer diferente, mas que deixe tudo na mesma, acomodando-se aos discursos e lugares comuns de sempre. Ou, em alternativa, colocando-se num aparente patamar de suposta superioridade ética, moral, intelectual, ou curricular, que, no final do dia, não sobrevive ao primeiro vento e cai com estrondo perante as contradições do que dizem e fazem, repetindo soluções antigas que, na hora da verdade, não mudam o regime. Livres de amarras de qualquer tipo que não a sua própria consciência, há mesmo uma nova geração disponível para fazer diferente, sem deixar-se, em nenhuma circunstância, acomodar, condicionar, amedrontar, ou silenciar. Para fazer diferente - demore o tempo que demorar.

A vida é uma lição constante, repleta de erros. Não conheço quem não os tenha cometido, ainda que conheça quem nunca os reconheça – mas os desta geração nunca serão, assim espero, os do comodismo de ambições pequenas e vistas curtas. Convocados para diferentes combates, foram muitos os que, com horizontes largos, disseram sempre presente – porque há novos limites para serem ultrapassados, como tão bem nos demonstra, vez após vez, a maravilhosa Mayra Santos, inspiração para quem por vezes se esquece de sonhar. Confrontados com novos desafios, foram muitos os que repetiram o seu compromisso com um legado de serviço público do partido a que pertencem. Alguns, saindo da ilha sem saírem da Madeira, continuando atentos, activos, participativos e reivindicativos, como sempre foram. Não há, neste caso, tempestade que sempre dure, nem mal que nunca acabe – e o tempo excepcional que vivemos não será diferente. Até lá, a resposta é a de sempre: dizemos presente – e em frente.

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