Porto Santo Biosfera, mais que um galardão
Não é certamente a solução milagrosa para todos os desafios, constrangimentos e dificuldades
O Porto Santo acaba de entrar para a lista de Reservas da Biosfera da UNESCO, a qual integra, actualmente, 714 sítios distribuídos por 129 países. Ao contrário dos sítios, ou elementos tangíveis e intangíveis, que fazem parte da Lista de Património Mundial da UNESCO, as Reservas da Biosfera não se classificam apenas por possuírem valores naturais ou culturais exclusivos e de valor universal. É preciso muito mais que isso, o que implica, desde logo, o reconhecimento do valor da candidatura e da aprovação da integração da Ilha do Porto Santo na Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO. Parabéns ao Porto Santo e a todos os que contribuíram para este posicionamento e para o que daí resulta. Parabéns em particular aos decisores que assumiram cooperar e liderar o desafio propondo assim o início da caminhada que se segue. Essa parte da missão foi bem sucedida e resulta, agora, num compromisso e responsabilidade partilhados que derramam na afirmação do Porto Santo como um laboratório vivo de experimentação, em linha com a Agenda 2030 e os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável. Quem decidiu esse caminho, assumindo as referências inscritas no Programa o Homem e a Biosfera da UNESCO foi o Porto Santo, a região Autónoma da Madeira e Portugal, cabendo à UNESCO a aceitação e acreditação da ilha enquanto lugar que reúne as condições biofísicas, culturais e históricas e, mais importante, o compromisso e vontade de fazer parte do clube das Reservas da Biosfera, juntando-se a cerca de 260 milhões de pessoas que hoje vivem em Reservas da Biosfera e a quem as reservas da Biosfera dedicam a sua prioridade
Conservar e utilizar de forma sustentável os recursos naturais, reforçar a sua identidade, património, cultura e história, como parte central do seu modelo de desenvolvimento, criando oportunidades de emprego e crescimento económico inclusivo é a essência de uma Reserva da Biosfera, seja no Porto Santo, no Sudão ou em França. A classificação como Reserva da Biosfera é, antes de mais nada, a aceitação, por parte da UNESCO, dessa vontade expressa pelos actores locais.
O momento é de festa e de regozijo, pelo trabalho feito e por tudo o que se pode a partir de agora, continuar a fazer, aceitando o enquadramento e orientações que dão corpo ao Programa o Homem e a Biosfera e procurando beneficiar das oportunidades que o trabalho em rede, a cooperação e a visibilidade da marca UNESCO podem oferecer. Não é certamente a solução milagrosa para todos os desafios, constrangimentos e dificuldades. Não é, sequer, uma obrigação definitiva, já que, por vontade própria, ou por incumprimento, também se pode deixar de ser Reserva da Biosfera. No mesmo dia em que o Porto Santo foi aprovado como Reserva da Biosfera, 11 Reservas em diferentes países como a Austrália, Bulgária, Congo ou México, saíram da lista. É um processo dinâmico que depende sempre da vontade própria das reservas e dos seus países.
O principal desafio, para qualquer Reserva da Biosfera é, quase sempre, o de olhar para a classificação como um galardão, qual medalha em final de corrida, ou como qualificação para começar uma nova caminhada. E o Porto Santo deixou bem claro que quer caminhar e que quer todos a caminhar consigo. Parabéns Porto Santo.