As "boas" notícias
Boa noite!
Um dos nossos estimados colaboradores escrevia esta semana no DIÁRIO que, de modo geral, “o jornalismo precisa de tratamento”. Tem toda a razão. Até porque se não fosse o jornalismo muita gente não saberia o que dizer.
Não é o caso do José Paulo do Carmo que escreve muitas vezes sobre a alma da existência, porventura o lado B, o menos óbvio e o mais desconcertante, ele que quer um jornalismo de equilíbrios, que conte a verdade por vezes cruel, mas que se liberte do negativismo, da desgraça e do drama. E que dê boas notícias, como se nas más não houvesse lugar para a redenção e para a esperança.
O jornalista dá notícias. Objectivamente. Não lhe cabe classificar se são boas ou más. Ao fazê-lo estaria a substituir-se ao consumidor de informação, esse sim soberano, com legitimidade para poder classificar, adjectivar, aplaudir ou criticar.
Neste tempo de pandemia o jornalismo sério tem sido vacina e companhia. Logo, está mais exposto, embora desde sempre muito escrutinado. É natural por isso que cresça a apetência por moldá-lo à imagem e semelhança de uma militância qualquer.
Mas quem passa um dia numa Redacção como a nossa percebe sem esforço que o lado bom da Vida é ouvir quem bate à porta à espera de um final feliz. É dar voz e palco a quem clama por justiça, pão e oportunidade. É substituir entidades que faliram na sua missão social e pedagógica. É tolerar o insulto e ameaça. É apreciar um truque de magia do Luís de Matos ou cinco minutos de flauta de duas irmãs gémeas da escola de artes da ilha. É mediatizar eventos que não teriam acontecido se não tivessem expressão numa breve, numa galeria de imagens ou numa grande reportagem. É dar mundo a gente que julgava que nada mais havia para além do horizonte. E é dar opinião diferente que, como a que assina José Paulo, tem a capacidade de gerar dialética. E essa é a melhor terapia para quem exercita a lucidez.