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Madeira

Empresários da Madeira dizem-se prejudicados pela "irresponsabilidade" de alguns espaços

Noite de Halloween ditou fim de um rastilho que começou a pegar fogo há vários meses. Ultimamente, muita gente recorria às redes sociais para denunciar aglomerados e consumo de álcool na via pública da Região

Na última conferência de imprensa do Governo Regional, o foco do primeiro minuto de transmissão virou-se para uma fotografia captada na Rua das Fontes, com um vasto aglomerado, seguindo-se a exibição de um vídeo, com outro ajuntamento de pessoas, na discoteca Vespas.

Tais aglomerados e consequente desrespeito pelas regras de distanciamento e uso obrigatório de máscara vinham a se verificar a cada fim-de-semana, em vários espaços, bares ou discotecas, sem que muitas pessoas demonstrassem quaisquer cuidados. As denúncias multiplicavam-se, quer nos órgãos de comunicação social, quer nas redes sociais, e a onda de contestação foi aumentando de tom até que o chefe do executivo decidiu colocar um ‘travão’ nos excessos que se verificavam na noite madeirense.

As imagens que acabaram de visionar e que são do último fim-de-semana mostram como ainda há muito comportamento negligente face a esta grave ameaça. É a saúde dos nossos filhos, pais, avós e amigos que está em causa. Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira

Ora, após as medidas restritivas anunciadas pelo chefe do executivo madeirense, na passada quarta-feira, alguns empresários aprovam os novos horários e a fiscalização mais apertada, mas atribuem a "irresponsabilidade" a "uns senhores que há uns anos não eram nada e agora intitulam-se de reis".

Uma das vozes contestatárias é a de Pedro Ferreira, proprietário do Old Town Bar, na Zona Velha da cidade do Funchal. O empresário considera que as medidas são “uma grande injustiça” para aqueles que “cumprem com as leis e vão ser penalizados pelo comportamento irresponsável de outros”.

“Acho que multas e encerramento de estabelecimentos para reincidentes é muito pouco. Se fechassem um mês, por exemplo, por insistirem em não cumprir, era mais justo. Temos muita falta de civismo por parte de quem frequenta os bares e discotecas que ao não cumprir o distanciamento físico recomendado pela DGS recusam-se a usar máscara. Mais uma vez são os estabelecimentos a serem penalizados pelo comportamento dos seus clientes e pelos quais não somos responsáveis! A solução encontrada foi fechar os estabelecimentos, mas a questão é que quem não cumpre de noite também não está a cumprir de dia e este é realmente o problema”, acusa Pedro Ferreira, denunciando as ‘after parties’ que “existem um pouco por toda a ilha” e que “agora ainda mais vão acontecer, porque os estabelecimentos vão fechar à meia-noite!”.

Dos três espaços que a nossa empresa tem, dois vão encerrar durante 30 dias, como a lei o obriga, mas os empregados também vão ficar sem os seus postos de trabalho. Aqui não temos problema em pagar os direitos a cada um deles. Quem criou esta situação? Foram alguns grandes empresários da noite do Funchal! Esses sim é que o presidente tem de pedir contas e responsabilizar! Pedro Ferreira, empresário

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Do Funchal à Ribeira Brava, o DIÁRIO também falou com o dono da Tasca do Jota. O estabelecimento não é de diversão nocturna, mas agora terá de fechar mais cedo. Fábio António queixa-se da “irresponsabilidade de comerciantes" na capital madeirense.

“Na conferência de imprensa do Governo Regional vimos dois espaços que, desde o desconfinamento, incentivaram ajuntamentos. Estes espaços não representam os restantes 95% comerciantes de toda a Região! No entanto, todos estes 95% foram prejudicados pela irresponsabilidade de quem se acha senhor e dono de tudo!”, critica.

Albuquerque quis castigar e bem os estabelecimentos que, por mais que uma vez, não cumpriram com as medidas de segurança, mas que castigasse quem não cumpriu e não quem tudo fez correctamente! Recuso-me a ser prejudicado por uns senhores que há uns anos não eram nada e agora intitulam-se de reis! Fábio António, empresário

ARAE diz que houve "desrespeito"

A Autoridade Regional das Actividades Económicas (ARAE) garante ao DIÁRIO ter havido “desrespeito pelas regras de distanciamento recomendado, quer dentro dos espaços comerciais, quer no exterior, nomeadamente esplanadas e ruas circundantes”, bem como o “não uso de máscara ou uso incorrecto”, o facto de as pessoas continuarem a “consumir álcool na via pública” e ainda a falta de “cumprimento da lotação máxima permitida nos espaços comerciais”.

A “maioria” das situações detectadas foram corrigidas no momento e no local, onde grande parte das pessoas respeitaram as instruções das autoridades, pese embora se tenham verificado “alguns casos pontuais em que foram levantados autos”.

“As ruas problemáticas continuam a ser a Rua de Santa Maria, na Zona Velha, e a Rua das Fontes, que dada a sua dimensão e características dos estabelecimentos nelas localizados, dá azo a ajuntamento. Sem prejuízo verifica-se igualmente as mesmas situações em alguns locais fora do centro do Funchal”, avança a ARAE, para depois relembrar que a partir de hoje este género de atitudes negligentes, como classificou o presidente do Governo Regional, pode dar multa.

“O novo regime normativo que entra em vigor esta sexta-feira permitirá endurecer a reacção contra estes comportamentos, nomeadamente com a aplicação de coimas. No entanto, apelamos à responsabilidade conjunta dos clientes, particularmente os mais jovens, e dos comerciantes, deforma a que sejam cumpridas as regras de segurança estabelecidas, garantindo assim que usufruem em segurança destas actividades”, avisa a ARAE.

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