O iate científico ‘Eugen Seibold’, de bandeira portuguesa no Registo Internacional de Navios da Madeira (MAR), estará de partida para as ilhas Canárias após cerca de mês e meio a recolher informação dos mares da Região.
Em mais uma operação promovida pela Max Planck Institute for Chemistry (Instituto de Química Max Planck), na Alemanha, os trabalhos versam variantes da micropaleontologia (ramo da paleontologia que se ocupa do estudo dos fósseis microscópicos) dos fundos marinhos desta área do Atlântico.
Já no ano passado o iate tinha realizado o percurso entre a Madeira e os Açores pelo caminho fez a recolha de muita informação para, por exemplo, perceber a mudança de temperatura do mar e as possíveis consequências das alterações climáticas na vida marinha.
Conforme se vê na foto (autoria de Hedy Aardema), os cientistas a bordo preparam a “utilização da multi-rede a bordo do ‘Eugen Seibold’ para análise do microplâncton na Bacia do Madeira”, pode-se ler na legenda de um dos estudos levados a cabo. “Da esquerda Maria Calleja, Hans Slagter, Argo Kruusmägi, Ralf Schiebel”.
“O assunto da micropaleontologia é a análise de bioindicadores vivos e fósseis microscópicos”, explicam. “Microfósseis são indicadores sensíveis de mudanças ambientais e desempenham um papel fundamental na paleoceanografia e na pesquisa de paleoclima. Nossos projetos estão intimamente ligados às disciplinas de geoquímica, geologia, biologia e oceanografia e são realizados em estreita cooperação nacional e internacional”, acrescentam.
E reforçam: “Analisamos organismos vivos e fósseis em relação a seus requisitos ecológicos e sua composição química. A composição das biocenoses atuais é calibrada com dados físicos e químicos do seu habitat. Os dados são usados para reconstruir e quantificar as mudanças ambientais anteriores.
Nesta foto em baixo revelam os microorganismos recolhidos nestes estudos. “Plâncton na camada superficial mista da Bacia do Madeira, no oceano Atlântico Norte, amostrado até 40 metros de profundidade”, explica. “Os foraminíferos plancticos (Fotos A-G) são protozoários e fazem parte do zooplâncton calcificado com o qual as mudanças climáticas nos últimos 100 milhões de anos podem ser reconstruídas. A-C perderam suas pontas, que ainda estão presentes em E e F. Em A, a célula viva é visível como uma névoa cinza. As algas (H-J) produzem oxigênio na zona eufótica do oceano. Larvas Seastar (K) são um estágio de vida livre das estrelas-do-mar que vivem no fundo, um ciclo de vida típico em organismos marinhos. Acantharia (L) são radiolários plancticos com esqueleto de sulfato de estrôncio. As cianobactérias (M) do género Trichodesmium fixam o azoto atmosférico em partes do oceano com depleção de nutrientes, como a Bacia da Madeira. Os copépodes (N) fazem parte do metazooplâncton e servem de alimento para os foraminíferos. Os caramujos pelágicos, ou pterópodes, têm a estrutura dos pés adaptada em “asas” e possuem uma concha calcária (aragonita). As barras de escala branca e preta indicam 0,2 mm”.
As fotos são cortesia de Otto Larink, a bordo do iate científico. E a verdade é que para leigos na matéria, a maioria de nós, as palavras e nomes científicos pouco significam, ainda que as imagens possam ter alguma beleza. Mas se pensarmos que estes estudos podem ser cruciais para perceber de onde viemos e para onde caminhamos, inclusive pode servir para a tomada de decisões políticas.
Recuperando a viagem do ano passado, com saída a 18 de Junho e chegada a 25 de Junho em
São Miguel, com recolhas a meio trajecto, entre 20 e 21, “dados do sensor em curso da água recolhidos da quilha do ‘S/Y Eugen Seibold’ (mais ou menos a 3 metros de profundidade) entre a Madeira e os Açores, sendo que durante o cruzeiro foram recolhidos dados de temperatura e salinidade e três propriedades de interação do sistema de CO2 do oceano, incluindo concentração de oxigénio, pressão parcial de carbono dióxido de carbono e o pH da água do mar.
O ‘Eugen Seibold’ é, efectivamente, um autêntico laboratório flutuante, sendo que 50% do espaço interior são áreas de estudo, “incluindo laboratório húmido, laboratório seco e laboratório de atmosfera”.
O nome que lhe foi atribuído é do Professor Eugen Seibold, geólogo marinho alemão, nascido em 11 de Maio de 1918 e falecido a 23 de Outubro de 2013, reconhecido como o fundador das geociências marinhas modernas na Alemanha.
O acordo para construção do iate ocorreu dois anos após a
sua morte, mas a construção só começou em 2017, tendo o baptismo de mar
ocorrido precisamente a 11 de Maio de 2018, data de aniversário do professor
Seibold. No Inverno desse ano partia na sua primeira viagem científica. Durante
o ano passado esteve nesta zona do Atlântico Norte e por cá ficou em 2020 e ficará
no próximo ano, tirando uma incursão pelas Caraíbas e, possivelmente, Pacífico
Oriental.
A construção foi financiada pela Werner Siemens Foundation, da Suíça, e custou
3,5 milhões de euros. O design foi do atelier italiano Lorenzo Argento
Yacht Design, mas a construção efectivamente foi realizada pela Michael Schmidt
Yachtbau, em Greifswald, Alemanha, sendo o design de interiores elaborada pela Axthelm
and Rolvien Architects, de Berlim.
O navio foi ontem visitado pela secretária regional do Ambiente e dos Recursos Naturais, bem como pela directora regional do Mar, que lançou um desafio.
Navio alemão desafiado a investigar mares da Madeira
O instituto alemão Max Planck foi desafiado, esta manhã, pela directora regional do Mar, a fazer pesquisas nos mares da Madeira para avaliar a qualidade das águas e os níveis de eventual contaminação. Mafalda Freitas visitou o navio de investigação alemão Eugen Seibold, que se encontra de passagem pelo porto do Funchal, juntamente com João Delgado, director dos serviços de estudos e investigação da Secretaria Regional de Mar e Pescas.
Agenciado pela Funchal Marítima, segundo Luís França responsável desta empresa madeirense, o navio deverá sair agora no domingo rumo a Lanzarote, nas ilhas Canárias, para mais estudos, podendo ainda este ano regressar à Madeira, algo que está por confirmar. "Vindo inicialmente dos Açores, onde passaram um mês, vêm estudando a qualidade da água do mar em diversos sítios do mundo, assim como a qualidade do ar e o estudo de plantas e plâncton, que poderá relacionar-se depois com a indústria química para efeitos de produção de medicamentos", explica. "Esta é a segunda equipa a bordo, pois acabaram por fazer troca de tripulação e cientistas já na Madeira".
Durante parte da estadia na Madeira, o iate esteve atracado na Marina da Quinta do Lorde, tendo agora passado há cerca de duas semanas para a Marina do Funchal, por ser mais funcional, mediante autorização especial da APRAM e mediação da Secretaria Regional de Mar e Pescas.
O empresário lembra que nesta estadia, o 'Eugen Seibold' foi sujeito a trabalhos na popa que custaram alguns milhares de euros, mas também contribuíram com alojamento em apartamento e hotéis, além do aluguer de transporte, o que na altura em que estamos é dinheiro bem-vindo.
Equipamento científico
Sondagem contínua de água do mar e amostragem da entrada da quilha a 3,5 metros de profundidade para físico (por exemplo, temperatura), químico (por exemplo, oxigénio) e biológico (por exemplo, clorofila)
Medidas
A água do mar é bombeada na base da quilha através de um tubo de teflon para minimizar a contaminação e analisar.
Dados técnicos
Model Explorer 72
Comprimento da linha de água 22 m (72 pés), comprimento total 24 m (80 pés), viga 6 m, calado 3,50 m
8 beliches, ou seja, máx. 4 a 6 cientistas, mais 2 a 4 tripulantes
Autonomia de até 3 semanas, 4.000 Litros de diesel, 1.000 Litros de água potável, mais sistema de dessalinização
50% do interior são laboratórios, incluindo laboratório húmido, laboratório seco e laboratório de atmosfera
Peso bruto 48 toneladas
Diesel de seis cilindros 210-PS
Agregado de 288 volts de 67 PS
MMSI: 255913282
Call Sign (Indicativo de chamada): CRA7241
Bandeira: Portugal (PT)