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Deixem o tempo seguir o seu ritmo

Mesmo vivendo uma pandemia, Podemos mudar algumas coisas nas nossas vidas

Há uma coisa que sempre me fez uma grande confusão: a pressa que as pessoas têm de apressar o tempo. No Natal, já falam do Carnaval. No Carnaval, já falam da Páscoa. Na Páscoa, já falam na Festa da Flor. Na Festa da Flor, já falam da praia. Na praia, já falam da festa do vinho. Na festa do vinho, já falam do Natal. Isto são apenas pequenos exemplos para elucidar o que quero dizer neste artigo. Deixou-se de saborear as coisas e os acontecimentos na altura certa. É tudo muito apressado, como se tudo fosse desaparecer de repente. Ainda hoje é o dia 1 de Dezembro, mês da Festa, e as árvores de Natal e respetivas decorações, já circulam por todo o lado. A vida assim perde sabor. Perde a atualidade dos acontecimentos. Tenho quase a certeza que há pessoas que, quando chegarem ao dia de Natal, já desejarão desmanchar a árvore e arrumar o presépio.

Apressar a vida e não viver, AGORA, com tudo o que isso implica, é viver numa ilusão permanente de fazer tudo antes que o mundo acabe. Eu aprendi a apreciar cada dia como se fosse o último e a viver um dia de cada vez. Aprendi a apreciar a luz do sol desde a manha até o anoitecer. E que belo que é, quando não temos as nuvens a tapá-lo mas, mesmo essas, também têm a sua função importante. Aprendi a olhar para o mar com os olhos, não só de uma Ilhéu, mas também imaginando a dimensão que o mar tem nas nossas vidas e a sua importância para que tudo funcione o melhor possível. Aprendi a gostar do som do vento. Só não consigo gostar do som das trovoadas. Tenho muito respeito por elas.

Aprendi que cada experiência que vivencio tem uma grande importância na minha vida e é uma grande aprendizagem. Sejam mais positivas ou mais negativas, todas elas são necessárias e são saboreadas, ou não, como a vida a acontecer, com os seus altos e baixos, como é realmente a vida de cada um/a de nós. Gosto de apreciar a vida devagarinho, sem pressas, gostando de pessoas, contestando o que não concordo, mas respeitando o espaço que todas as coisas devem ter. Para mim, só vale a pena viver se for assim. Sem pressa de apressar nada. Tudo deve acontecer quando tem que acontecer. E se alguma coisa me incomoda, digo o que tenho a dizer e, se for necessário, afasto-me ou ignoro, pura e simplesmente. É fácil? Claro que não. Resulta? Acho que sim. Mas depende sempre de como encaramos cada facto por si só. Se sofro por pensar assim? Claro que sofro. Mas esta é a minha escolha e a vida é feita de escolhas, e cada escolha tem as suas consequências.

Isto tudo para dizer que, mesmo vivendo uma pandemia, da qual já falei no meu último artigo, podemos mudar algumas coisas nas nossas vidas. Às vezes, parar para pensar e depois agir em consonância com a nossa consciência, e com o nosso querer, é o melhor que podemos fazer. Não adiando nada do que gostamos de fazer. Amando quem gostamos. Apreciando os pequenos gestos. As palavras simpáticas. A solidariedade em momentos mais difíceis, é tudo mais importante do que muitas coisas materiais que são levadas pelo tempo e estragam-se com facilidade.

Este é o apelo que gostaria de deixar no meu último artigo deste ano, que marcará para sempre as nossas vidas, para o mal, sobretudo dos que morreram ou adoeceram, mas também, quem sabe, pelo bem, que pode levar a que haja mudanças positivas em cada um/a de nós no futuro.

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