Como surgiu o massacre de Santa Cruz
As pessoas só morrem se nos esquecermos delas
Visita de deputados
Em outubro de 1991, um grupo de deputados portugueses preparava-se para visitar Timor-Leste a convite do Parlamento Indonésio. Mas a Indonésia recusou o visto à jornalista australiana Jill Joliffe, que integrava a comitiva portuguesa. Portugal contestou a recusa e, devido a este impasse, a visita acabou por ser suspensa.
Protesto
Vários jovens ativistas timorenses tinham escondido bandeiras e cartazes na areia e nas pedras à beira-mar, em frente ao palácio do governo, para exibirem logo que chegassem os deputados portugueses.
A 28-10-1991, os jovens protestaram, descontentes com a suspensão da visita. A polícia indonésia, porém, perseguiu os manifestantes. Durante os confrontos o jovem Sebastião Gomes, de 18 anos, foi assassinado na igreja de Motael onde se tinha refugiado.
Homenagem a Sebastião Gomes
A 12 de novembro de 1991, após a missa do sétimo dia, na mesma igreja de Motael, centenas de timorenses, a maior parte jovens, dirigiram-se em cortejo ao cemitério de Santa Cruz com o pretexto de homenagear Sebastião Gomes. Ao chegarem ao cemitério, a polícia e o exército indonésio tentaram dispersar os jovens e dispararam sobre a multidão, dando origem ao conhecido massacre de Santa Cruz.
Desaparecidos
Com base na informação dos familiares das vítimas, este massacre causou 271 mortos, 250 desparecidos, 386 feridos e dezenas de presos. Numa sepultura em Hera, zona leste de Díli, foram identificados uns vinte cadáveres, que a Indonésia diz terem sido, apenas estes, os mortos no massacre, mas toda a gente sabia que as vítimas eram muitas mais.
Silêncio ensurdecedor
Após a independência, em 2002, militares timorenses, que integravam o exército da Indonésia, revelaram que muitos dos desaparecidos tinham sido sepultados em valas comuns na localidade de Aimeta-Laran, aldeia Libalelo (Soteia), suco de Tibar, a oeste de Díli. Durante a ocupação da Indonésia esta zona estava inacessível, porque ali foi montado um acampamento militar.
A 14-11-2004 eu acompanhei o timorense Sebastião Pereira, que colocou flores junto a uma cruz, nas valas comuns, em Aimeta-Laran, porque o seu amigo Fredi Costa e outros amigos desaparecidos, certamente, ali se encontram sepultados. É um local afastado de habitações, sem estrada, com difícil acesso, onde o silêncio é ensurdecedor. (cf. foto que junto – pág. 140 de “Gente de Timor-Leste”, vol. 2).