Papa desafia jovens a rejeitarem consumismo e a terem "grandes sonhos"
O Papa desafiou hoje os jovens católicos a rejeitarem uma mentalidade "consumista" e o "pensamento dominante", que descarta os mais necessitados, e pediu-lhes "grandes sonhos", que alarguem "horizontes" e não os deixem "estacionados nas margens da vida".
Na homilia da missa da solenidade de Cristo Rei, a que presidiu na Basílica de São Pedro e na qual participou a delegação portuguesa que recebeu, no final da cerimónia, os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o chefe da igreja católica convidou os jovens a assumirem "escolhas vigorosas, decisivas e eternas".
A entrega dos símbolos, a Cruz Peregrina, com 3,8 metros de altura, e a réplica do ícone de Nossa Senhora 'Salus Populi Romani', que retrata a Virgem Maria com o Menino nos braços, deveria ter acontecido em abril, mas devido à pandemia da covid-19 foi adiada para hoje.
O ato, que constitui "o pontapé de saída" para a JMJ de Lisboa, em 2023, foi marcado pelo anúncio do Papa de que o Dia Mundial da Juventude passará a ser celebrado nas dioceses de todo o mundo no Dia de Cristo Rei e não no Domingo de Ramos, como até aqui.
"Hoje, escolher é não se deixar domesticar pela homogeneização nem anestesiar pelos mecanismos do consumo, que desativam a originalidade, é saber renunciar às aparências e à exibição. Escolher a vida é lutar contra a mentalidade do usa e deita fora, do tudo e imediatamente, para orientar a existência rumo à meta do Céu, rumo aos sonhos de Deus", afirmou.
Francisco destacou a importância dos "grandes sonhos" na vida dos jovens, para que estes alarguem os seus "horizontes" e não fiquem "estacionados nas margens da vida".
"Não fomos feitos para sonhar aos feriados ou ao fim de semana, mas para realizar os sonhos de Deus neste mundo. Ele tornou-nos capazes de sonhar, para abraçar a beleza da vida", frisou.
O Papa alertou que "escolhas banais levam a uma vida banal", realçando que "a beleza das opções depende do amor".
"Se escolhemos roubar, tornamo-nos ladrões; se escolhemos pensar em nós mesmos, tornamo-nos egoístas; se escolhemos odiar, tornamo-nos furiosos; se escolhemos passar horas no telemóvel, tornamo-nos dependentes. Mas, se escolhermos Deus, vamo-nos tornando dia a dia mais amáveis; e, se optarmos por amar, tornamo-nos felizes", afirmou.
A homilia recordou o exemplo de São Martinho, cuja festa litúrgica se celebra em 11 de novembro, um jovem romano de 18 anos, que, ainda não batizado, "cortou o seu manto e deu metade ao pobre, suportando o riso de escárnio de alguns à sua volta".
"São Martinho era um jovem que teve aquele sonho porque o vivera, embora sem o saber, como os justos do Evangelho de hoje", acrescentou.
Francisco admitiu que, na vida dos mais novos, há "obstáculos" no momento de decidir, "o medo, a insegurança, os porquês sem resposta".
"A vida já está cheia de escolhas que fazemos para nós mesmos: ter um diploma, amigos, uma casa; satisfazer os próprios passatempos e interesses. De facto, corremos o risco de passar anos a pensar em nós mesmos, sem começar a amar", advertiu.
No final da homilia, o Papa deixou um "conselho" para que os jovens possam "escolher bem".
"A opção diária situa-se aqui: escolher entre o que me apetece fazer e o que me faz bem. Desta busca interior, podem nascer escolhas banais ou escolhas vitais. Olhemos para Jesus, peçamos-Lhe a coragem de escolher o que nos faz bem, de caminhar atrás d'Ele pela via do amor e encontrar a alegria", declarou.
A missa foi concelebrada, entre outros, pelos cardeais portugueses José Tolentino Mendonça e Manuel Clemente, e os bispos auxiliares de Lisboa Américo Aguiar e Joaquim Mendes, coordenadores-gerais do Comité Organizador Local da JMJ 2023.
Uma dezena de jovens portugueses participou na "passagem da pasta" dos jovens do Panamá, numa delegação presidida por Manuel Clemente e que integrou ainda o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, que tutela a área da juventude.