Território indígena do Brasil com aumento de mais de 250% de casos
O número de casos de covid-19 aumentou mais de 250% em três meses na Terra Indígena Yanomami, maior área demarcada brasileira, e um em cada três moradores da região pode ter sido contaminado, segundo a Rede Pró-Yanomami e Ye'kwana.
A organização não-governamental (ONG) realizou um estudo chamado "Xawara -- Rastros da covid-19 na terra indígena Yanomami e a omissão do Estado", com dados aprofundados sobre os casos do novo coronavírus na reserva e constatou que há casos confirmados de contaminação em 23 das 37 regiões.
Os dados mostram que mesmo considerando a baixa sensibilidade dos testes rápidos habitualmente usados para testar indígenas que vivem no território Yanomami, o número de casos confirmados entre os Yanomami e Ye'kwana subiu de 335 para 1.202 nos últimos três meses, um aumento de mais de 250%.
"Como o isolamento social entre os moradores é impraticável nas aldeias, é possível que aproximadamente 10 mil Yanomami e Ye'kwana já estejam expostos ao novo coronavírus, num universo de cerca de 27 mil pessoas, ou seja, mais de um terço da população total, evidenciando uma situação de total descontrolo", referiu o levantamento.
Há o registo de 23 mortes (confirmadas ou suspeitas) atribuídas à covid-19 na Terra Indígena Yanomami, que é habitada pelos povos Yanomami e Ye'kwana, localizada na fronteira do Brasil com a Venezuela, nos estados de Roraima e Amazonas, abrangendo uma área de cerca de 9,6 milhões de hectares.
A sua população atual é superior a 26.785 pessoas (2018), distribuídas em mais de 360 aldeias, interligadas por redes de trocas que mantêm um grande fluxo de pessoas entre as diferentes regiões.
Um dos problemas apontados na reserva indígena é a falta de testes aplicados na população para detetar a doença levada por mineradores ilegais que vivem dentro da reserva (cerca de 20 mil pessoas), segundo dados da ONG.
Os mineradores invasores levam doenças e ameaçam os indígenas dentro de seu próprio território, aumentando a tensão na pandemia.
O relatório refere que este ano, pelo menos dois yanomamis foram mortos por tiros disparados por mineradores.
"Dados do Ministério da Saúde indicam que há 11 regiões do território indígena Yanomami onde menos de 10 testes foram realizados e outras três onde nenhum teste foi feito, ou seja, em mais de um terço das regiões há pouquíssima informação sobre a chegada da covid-19, reforçando as denúncias dos indígenas de que na realidade o número de contaminados pode ser muito maior", apontou o documento.
As vítimas Yanomami do novo coronavírus têm sido, em sua maioria, os idosos e os bebés. Entre os 23 óbitos confirmados e suspeitos, seis eram bebés com menos de dois anos (22%), 12 eram pessoas com mais de 50 anos (52%), quatro eram jovens entre 12 e 20 anos e uma jovem de 23 anos (26%)
Segundo a Rede Pró-Yanomami e Ye'kwana, os números mostram que o plano de contingência criado pelo Governo brasileiro para atender a indígenas na pandemia foi ineficiente para controlar o avanço da doença.
Os dados referem-se ao período entre as semanas epidemiológicas de 05 de abril a 24 de outubro de 2020.