Bispo do Funchal alerta para as “promessas de uma felicidade ilusória”
O Bispo do Funchal disse hoje, na comemoração dos Fiéis Defuntos, que decorre no Cemitério de São Martinho, que o que “nos reúne em oração pelos defuntos — pelos nossos, por quantos aqui, neste lugar se encontram sepultados e pelos do mundo inteiro — não é uma simples homenagem de recordação. Não estamos apenas a recordar os seus feitos ou a sua importância na nossa vida, ou para a vida da nossa sociedade e do mundo.
Estamos aqui reunidos para rezar a Deus, como comunidade cristã, para que o Senhor acolha a estes nossos irmãos no seu Reino de vida, perdoando os pecados que tiverem cometido. E, deste modo, a nossa oração é, também ela, profissão de fé na ressurreição de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, profissão de fé na verdade da comunhão dos santos”.
Num conjunctura atípica, por força da pandemia da Covid-19, que tem também obrigado a restrições nas celebrações religiosas e idas aos locais de culto e devoção, D. Nuno Brás exortou à oração, como forma de dar ânimo aos madeirenses.
“Rezamos porque acreditamos que, sendo membros do mesmo corpo de Cristo ressuscitado, o bem que praticamos redunda em bem para todos, vivos ou defuntos. Rezamos porque acreditamos na comunhão dos santos (…)”. Mas, ao mesmo tempo, a nossa oração é igualmente a afirmação da esperança que nos anima, e que é uma certeza, colocada por Deus nos nossos corações: “A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos o Reino dos Céus e a vida eterna como nossa felicidade, pondo toda a confiança nas promessas de Cristo, e apoiando-nos não nas nossas forças mas no socorro da graça do Espírito Santo”, diz também o Catecismo da Igreja Católica (CIC 1817).
O Bispo do Funchal sublinhou que é importante que estejamos focados naquilo que realmente importa enquanto seres humanos e não apenas aqueles instantes de felicidade que agora, neste momento, nos é dado viver. Numa clara alusão ao consumismo, considera que “olhando para o nosso mundo, encontramos muitas promessas de felicidade. A publicidade que nos bombardeia constantemente oferece a felicidade, em troca de uma compra mais ou menos custosa — mas sabemos bem, por experiência, como se trata de uma pequena felicidade passageira!”.
Aliás, acrescenta, “muitas ideologias e muitos vendedores de ideias nos prometem a felicidade, em troca de nos deixarmos subjugar e formatar pelos seus ideais — mas sabemos (a história do século XX mostrou-nos) como estes sistemas de ideias foram apenas criadores de regimes que quase aniquilaram o ser humano!”
O desporto promete a felicidade para o corpo; as chamadas meditações espirituais prometem a felicidade para o espírito; os vendedores de drogas prometem a felicidade dos instantes em que dura a ilusão de um mundo inexistente. São estas e tantas outras “promessas de uma felicidade ilusória” que urge combater. Bispo do Funchal em celebração no Cemitério de São Martinho.
Ontem, no entanto, ao celebrarmos os Santos (…), “aqueles homens e mulheres que viveram uma vida concreta como a nossa (tão concreta como as dificuldades, sofrimentos e tormentas por que passaram na sua esmagadora maioria) ficamos, também nós, cheios de entusiasmo para nos colocarmos no seu caminho.
“Como a encontraram eles? Encontraram-na deixando-se encontrar por Cristo. Encontraram a felicidade deixando que Cristo lhes desse a vida. Encontraram-na porque foram capazes de olhar mais longe e de viver mais longe: com os pés na terra, mas com o coração em Cristo ressuscitado. Com o coração na vida partilhada com Deus. Com o coração no Céu. Começaram a viver assim, felizes, bem-aventurados, ainda nesta terra, mas certos de uma bem-aventurança plena na vida que, após a morte, Deus lhes abria diante dos olhos e do coração. Ao partirem, deixaram-nos o testemunho de que é possível, nos faz bem, é feliz e faz felizes todos aqueles que com eles viveram e contactaram. Não é uma felicidade passageira, não nos esmaga, não nos destrói ou diminui. Pelo contrário: aqueles que a vivem torna-os grandes, infinitos, porque é assim a vida de Deus que eles tiveram a coragem de viver”.
No Cemitério de São Martinho, D. Nuno Brás insistiu numa mensagem de esperança para todos aqueles que enfrentam a morte dos seus entes queridos ou pessoas mais próximas. “Hoje, aqui estamos nós, não como quem acorda de um sonho para a triste realidade da morte, mas como quem percebe que é possível: é possível para nós e para aqueles que aqui descansam das suas tarefas, mas peregrinam connosco, membros do mesmo Corpo, até ao encontro pleno com Cristo”.
“Esta é a felicidade que pedimos para nós e para todos os defuntos. Podemos esperá-la como certeza porque escutámos e acolhemos o anúncio da ressurreição do Senhor e ela nos aparece como verdadeira; podemos esperá-la como certeza porque os santos nos mostraram a sua verdade, podemos esperá-la como verdadeira porque ela preenche em nós, plenamente, o anseio de felicidade que trazemos connosco”, concluiu.