Dirigente iraniano avisa que ataque dos EUA pode desencadear "guerra de pleno direito"
Um conselheiro do líder supremo do Irão e possível candidato às eleições presidenciais de 2021, avisou que um ataque norte-americano à República Islâmica, nos últimos dias da Administração Trump, pode desencadear "uma guerra de pleno direito" no Médio Oriente.
Em entrevista à Associated Press, Hossein Dehghan adotou um tom duro, parecido com o dos líderes da Guarda Revolucionária do Irão, força que serviu por muito tempo antes de se tornar ministro da Defesa do Presidente Hassan Rohani.
"Não gostamos de crises. Não queremos guerra. Não queremos começar uma guerra. Mas não andamos atrás de negociações só porque sim", afirmou hoje Dehghan.
Hossein Dehghan, de 63 anos, que se apresenta como um "nacionalista" sem "nenhuma tendência política convencional", é provavelmente um dos eventuais candidatos à corrida presidencial, marcadas para 18 de junho de 2021, já que Rohani atingiu o limite de dois mandatos.
Para este dirigente iraniano, ex-chefe da Força Aérea que chegou a brigadeiro-general, qualquer negociação com o Ocidente não incluirá os mísseis balísticos, que descreveu como "dissuasores" para os adversários de Teerão.
Dehghan, alvo de sanções norte-americanas desde novembro de 2019, alertou contra qualquer escalada militar nas últimas semanas de Trump no poder.
"Um conflito tático limitado pode transformar-se numa guerra de pleno direito. Definitivamente, os Estados Unidos, a região e o mundo não podem suportar uma crise abrangente", alertou.
O Presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, já disse que está disposto a voltar ao acordo nuclear caso o Irão concorde em limitar o enriquecimento de urânio, cumprindo os limites preestabelecidos.
Desde que Trump decidiu que os EUA se retirassem do acordo, o Irão ultrapassou os limites estabelecidos, embora ainda permita que os inspetores nucleares das Nações Unidas trabalhem no país.
Dehghan defendeu que essas verificações da ONU devem continuar, desde que um inspetor não seja um "espião".
Uma Presidência de Dehghan iria ser vista com suspeição por Washington e Paris. Como jovem comandante na Guarda Revolucionária, Dehghan supervisionou as operações no Líbano e na Síria entre 1982 e 1984, de acordo com uma biografia oficial divulgada pelo Parlamento iraniano em 2013.
Israel, o inimigo do Irão no Médio Oriente, tinha acabado de invadir o Líbano durante a guerra civil naquele país.
Em 1983, um bombista suicida num camião carregado de explosivos militares atacou um quartel de fuzileiros dos EUA em Beirute, matando 241 soldados norte-americanos e 58 franceses.
Embora o Irão negue o seu envolvimento, um juiz do Tribunal distrital dos EUA considerou Teerão responsável em 2003. Essa decisão acusou o então embaixador iraniano na Síria de ter entrado em contacto com "um membro da Guarda Revolucionária Iraniana e o instruir a instigar o bombardeamento do quartel da Marinha".
Dehghan negou veementemente estar envolvido no ataque, apesar de ser o principal comandante da Guarda Revolucionária na época.
Ao enfatizar que deseja evitar o conflito, Dehghan alertou que a expansão da presença de Israel no Médio Oriente pode transformar-se num "erro estratégico", na sequência dos acordos de normalização de relações do Estado judaico com o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos.
Dehghan disse também que o Irão pretende a saída das forças norte-americanas na região, como vingança pelo ataque de 'drone' [aparelho aéreo não tripulado] que matou o general Qassem Soleimani, principal responsável da estratega militar iraniana.
Esse ataque fez com que o Irão retaliasse com um ataque de míssil balístico contra instalações que abrigam militares dos EUA, que feriu dezenas de soldados e quase desencadeou uma guerra.
Os ataques de retaliação iranianos foram uma mera "bofetada inicial", segundo Dehghan, e não haverá um regresso fácil às negociações com os EUA em parte devido a isso.
"Não procuramos uma situação em que [a outra parte] ganhe tempo para enfraquecer a nossa nação", indicou.