Há 43 anos acontecia na Madeira a maior tragédia da aviação em Portugal
No Canal Memória de hoje regressamos ao fatídico dia de 19 de Novembro de 1977
Foi há 43 anos. Pouco antes das 10 das noite de 19 de novembro de 1977, uma noite de chuva intensa, um Boeing 727-200 da TAP 'Sacadura Cabral', que provinha de Bruxelas via Lisboa, tentou aterrar pela terceira vez na pista 24 do então Aeroporto de Santa Catarina, em Santa Cruz. O comandante sabia que tinha uma última oportunidade, caso contrário o voo teria de ser desviado para Las Palmas (Canárias). Essa última oportunidade revelou-se fatal para o voo TP425 que seguia com 164 pessoas a bordo.
Após a aproximação o avião aterrou muito para além do normal na curta pista do aeroporto, entrou em aquaplanagem (deslizou pelas águas acumuladas) e saiu pela cabeceira da pista, que tinha um desnível de algumas dezenas de metros em relação à estrada, partindo-se em dois. Parte da aeronave ficou em cima de uma ponte e a outra caiu sobre a praia a mais de 130 metros e foi consumida pelas chamas.
Dava-se assim aquela que é, ainda hoje, conhecida como a maior tragédia da avição civil em Portugal. O primeiro balanço, publicado na edição impressa do DIÁRIO do dia 20 de Novembro, dava conta de 123 mortos e 39 feridos hospitalizados. O cenário de "indescritível drama", como referia a equipa de reportagem do DIÁRIO, chocou a Região e o país inteiro, com o então Presidente da República, General Ranalho Eanes, a enviar nota do seu profundo pesar e uma comissão de inquérito que rapidamente se deslocou à ilha para tentar perceber o porquê e como do acidente.
A chuva e nevoeiro dificultaram os trabalhos de recuperação dos corpos e da fuselagem do avião. E os meios de uma ilha pareceram poucos para fazer face à tragédia.
Dias mais tarde, as contas finais resultariam em 131 mortos e 33 sobreviventes, 31 passageiros e dois elementos da tripulação, que, na altura do acidente se encontravam na parte traseira da aeronave.
Em 2015, os filhos de alguns dos tripulantes que morreram no acidente prestaram homenagem aos seus pais com a colocação de um memorial/escultura com peças antigas de avião, que assinala o seu carinho e apreço por esses profissionais da aviação portuguesa que faleceram no desempenho da sua missão. O memorial/escultura está localizado na promenade de Santa Cruz, junto à cabeceira do Aeroporto.
Há 3 anos, em 2017, o DIÁRIO recordava a tragédia com um dos sobreviventes, Emanuel Torres, que viajava na parte de trás do avião e que conseguiu salvar uma criança de dois anos.
Como consequência deste acidente, a TAP deixou de operar o modelo 727 da série 200 para a Madeira, passando apenas a operar o 727-100, 5 metros mais curto e fez-se primeiro aumento da pista de Santa Catarina, de 1-600 para 1800 metros.
A 15 de Setembro de 2000, foi inaugurada a nova pista, com 2.781 metros e, pela primeira vez, foi possível a aterragem de aeronaves de grande porte na Ilha da Madeira. A obra de ampliação do Aeroporto da Madeira é ainda hoje conhecida como uma das maiores obras de Engenharia efectuadas em Portugal, tendo sido premiada nacional e internacionalmente.
Descarregue aqui a edição impressa do DIÁRIO de 20 de Novembro de 1977.