O receio da deputada
Ana Catarina Mendes (ACM) líder parlamentar do PS mostrou-se publicamente “seriamente preocupada” com o acordo de incidência governamental para a RAA entre o PSD, CDS-PPM com o apoio parlamentar da IL e do Chega, que segundo ela é o início de um caminho “de normalização política do Chega por parte do PSD” com “sérias consequências nefastas para a democracia portuguesa”, estendendo a sua preocupação a uma hipotética aliança entre PSD e Chega para “fazerem uma revisão constitucional”. Normalização política do Chega? Mas o Chega não foi eleito normalmente em eleições normais cumprindo as regras do nosso regime político democrático? ACM traz à colação uma questão que se colocou há 45 anos de saber se o PCP era ou não um partido democrático, e mesmo sabendo-se que nessa altura o paradigma da “democracia” para o PCP era a União Soviética acabou fazendo parte do nosso regime democrático. Em Março de 2019 Jerónimo Sousa (JS) em entrevista ao Polígrafo não só se recusou a classificar o regime da Coreia do Norte como uma ditadura como ainda colocou em causa o nosso próprio regime democrático ao questionar “O que é a democracia?, Primeiro tínhamos de discutir o que é a democracia”. Portanto JS e o PCP colocam dúvidas quanto à nossa democracia e acham que a mesma terá de ser sujeita a discussão. Não me revejo nas propostas do Chega algumas xenófobas e representando um retrocesso civilizacional, mas como partido que cumpre os requisitos constitucionais necessários para ter representação parlamentar está mais do que normalizado politicamente. Já as consequências para a nossa democracia de alianças com o Chega são tão “nefastas” como as alianças do PS com o PCP. Mas o que é verdadeiramente de estarrecer é o receio manifestado por ACM quanto a um hipotético acordo entre PSD e Chega para “fazerem” uma revisão da Constituição. Será que ACM antevê que PSD e Chega crescerão ao ponto de formarem uma maioria de dois terços na AR? Só assim se justifica o receio de ACM!
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