Barak Obama diz que Trump e Bolsonaro "minimizam" a ciência no clima e na covid-19
O ex-presidente norte-americano Barack Obama considerou que tanto Donald Trump, como Jair Bolsonaro "parecem ter minimizado a ciência" na questão das alterações climáticas e nas políticas dos respetivos países na reação à pandemia de covid-19.
"Não conheço o Presidente do Brasil. Não quero dar uma opinião sobre alguém que não conheci. Posso dizer que, com base no que vi, as políticas dele, assim como as de Donald Trump, parecem ter minimizado a ciência da mudança climática. E o Brasil é um ator central [no objetivo] de se frear o aumento de temperatura, que pode causar uma catástrofe global", afirmou Obama, numa entrevista à estação de televisão Globo, hoje transmitida.
De igual modo, também em relação à covid-19, Obama considerou que as "ações de Donald Trump" e a forma como estão a lidar com a pandemia no Brasil revelam "uma diminuição da ciência" e que "isso tem consequências".
Os Estados Unidos da América (EUA) são o país com mais mortos devido à covid-19 (247.229) e também com mais casos de infeção confirmados (mais de 11,2 milhões), logo seguidos pelo Brasil, com 166.014 mortos e mais de 5,8 milhões de casos de infeção, segundo a Efe.
Jair Bolsonaro - líder da extrema-direita e criticado pela inoperância no combate à desflorestação e aos incêndios na Amazónia e no Pantanal - ainda não reconheceu oficialmente a vitória de Joe Biden nas presidenciais norte-americanas.
A "esperança" de Obama, manifestou o ex-chefe de Estado, é que, "com o Governo de Biden, exista uma oportunidade de redefinir a relação" entre os dois países, em particular, no que diz respeito às alterações climáticas e à pandemia.
"Sei que Joe vai enfatizar que a mudança climática existe. Tanto os EUA quanto o Brasil vão desempenhar um papel de liderança. Sei que Joe vai enfatizar a ciência no que concerne a existência da covid-19. Os EUA e o Brasil têm muitas coisas em comum. O progresso que tem que acontecer (...) no mundo, vai ser, em parte, determinado pela qualidade da relação entre os nossos dois países", afirmou.
Obama lamentou, mas disse não estar "surpreendido", com "o facto de Donald Trump estar a violar o costume da transição de poder pacífica", porque "violou vários tipos de normas antes", se bem que, em 20 de janeiro, haverá "um novo Presidente".
"Não existe dúvida de que os EUA estão profundamente divididos neste momento. O resultado desta eleição foi claro. A maioria das pessoas abraçou Joe Biden. Não existe nenhuma prova de que não tenha sido uma eleição justa e segura, (...) e Joe Biden recebeu quase 5 milhões de votos a mais e muito mais votos eleitorais do que Donald Trump", afirmou o ex-presidente.
Obama recordou que "apesar das diferenças", quando foi eleito, no final de 2008, o então Presidente, George W. Bush, "não poderia ter sido mais cortês na instrução [que deu às] suas equipes e agências para que trabalhassem" para garantir "uma transição tranquila"
"Como na altura estávamos no meio de uma crise, isso permitiu que conseguíssemos agir com rapidez nas questões relacionadas com a crise financeira. Se Donald Trump fizesse a mesma coisa, acho que seria mais fácil ao Presidente eleito Biden e à sua equipa abordarem [o combate ao] vírus. Isso poderia salvar vidas", frisou.
No entanto, como democratas e republicanos estão agora divididos por "diferenças profundas", Obama vaticinou: "Vai ser um desafio tentar criar a união de que precisamos para que o Governo enfrente grandes desafios como a covid-19, as mudanças climáticas e a crise económica".
Barack Obama, apesar da resistência que enfrentou, do ponto de vista político, enquanto primeiro presidente negro dos EUA, reconheceu que, não obstante, "a maioria do povo americano aprova" o trabalho que fez.
Ainda assim, a sua eleição não conseguiu "desfazer centenas de anos de História" de racismo.
"Acho que progredimos. Acho que melhorámos. Mas os instintos tribais antigos ainda existem. O legado da escravidão, o legado da segregação exercem uma sombra nos dias atuais. Vemos isso na economia, vemos isso nos conselhos corporativos, vemos isso nas nossas políticas. Nada disso me surpreendeu", salientou.
A próxima batalha no campo da segregação, é a do género. O ex-presidente garante que a primeira mulher a ocupar a Casa Branca não terá "Obama" como apelido, mas entende que há já uma mulher muito próxima dessa função. "Quando Kamala Harris assumir o cargo [de vice-presidente], vai estar a apenas alguns passos do Salão Oval. É uma pessoa com um talento extraordinário", afirmou.
Os países que estão a "sair-se bem" reconheceram que, se não incluíssem as mulheres -- "metade da população" - na resolução dos problemas, na criação de negócios, na pesquisa da cura para novas doenças, "se treinassem metade da população, seriam como uma equipa de futebol que deixa metade dela fora de campo", comparou o ex-presidente.
"Espero que Kamala Harris seja apenas o início de um processo no qual cada vez mais mulheres no mundo sejam vistas como líderes viáveis", concluiu Obama, apontando o facto de neste momento, os países que têm líderes mulheres, como a Nova Zelândia e a Alemanha, serem "os que estão a lidar melhor com o coronavírus". "Não acho que seja por acaso", vincou.