A frente fascista
Já há muito que se sabia do cortejo de Miguel Albuquerque ao ‘Chega’ e ao seu líder André Ventura. Começou por um estranho dar de mão, em que o presidente do Governo Regional abre a porta do PSD ao partido de extrema direita com vista a criar uma, cito, “federação instrumental de interesses no combate ao governo das esquerdas.”
Pretendia, porventura, ser ele próprio o portador desse estandarte de líder federativo instrumental, ameaçando vezes sem fim que se candidataria à presidência da República, num “eu vou-me a eles” carregado de alguma boçalidade que não caiu bem nas hostes do seu partido. Com uma leitura da realidade mais inteligente, André Ventura desde logo viu desde logo uma oportunidade e que entre falar e fazer vai uma longa distância. Vai daí, dá o mote e mostra que, na “federação instrumental de interesses”, quem manda é ele, e convida-o a ser um dos pilares da sua candidatura como “máximo coordenador e representante político da mesma.” Ou seja, um número dois, subordinado ao poder de Lisboa contra o qual Albuquerque tanto esbraceja.
Esta relação tem agora um novo capítulo, com uma ode de grande satisfação por parte do PSD Madeira e do governo à aliança PSD-Chega nos Açores. Um regozijo vocalizado de viva voz por deputados do PSD Madeira na Assembleia Legislativa da Região, que falaram do assunto como se de o resultado de uma vendetta pessoal contra o PS se tratasse, apelidando já de “Frente comum” o seu pavilhão de guerra autonómica.
Não vou querer enumerar as ameaças à nossa democracia que este precedente do novo governo dos Açores abre. Disso se encarregará a nossa vibrante sociedade civil do qual já ouvimos inúmeras tomadas de posição de diversos quadrantes políticos, contra a aliança PSD-Chega. Quero sim questionar os deputados do PSD na ALRAM quanto ao discernimento das suas posições.
Saberão que o PSD tem feito, recorrentemente, inúmeras alianças ao nível autárquico com o PCP? Que sempre o fez e nunca foi um problema. Ou melhor, só é problema quando o PS o faz.
Porventura colocam uma agenda que atenta contra os valores democráticos e matriz humanista, de preservação das liberdades e tolerância no mesmo patamar de agendas de partidos instituídos na nossa democracia e que com ela partilham valores democráticos vitais de tolerância?
Contrariam o alinhamento tácito dos partidos de direita das nossas democracias aliadas europeias de não efetuar acordos de poder com a extrema direita?
Na mesma lógica usada por Miguel Albuquerque, que em sempre verbalizou de forma populista e premeditadamente mentirosa o PS como querendo “tornar a Madeira como uma Venezuela”, podemos então, face a este acordo PSD-Chega, prever que o PSD quer tornar Portugal num Terceiro Reich.
Aos deputados do PSD Madeira e ao seu líder Miguel Albuquerque seria interessante que lessem o discurso dado por Pablo Casado, o líder dos conservadores espanhóis na Assembleia de Deputados aquando da discussão da moção de censura do partido de extrema direita VOX, contra a aliança de esquerda que governa Espanha. Pablo Casado diz, comparando o partido líder da oposição e direita conservadora com a extrema-esquerda: “Não somos comparáveis, às nossas diferenças são muitas. Tanto quanto a distância entre o liberalismo reformista e o populismo iliberal (…) Entre a vocação europeia e atlantista e o isolacionismo. Entre o interesse geral e o oportunismo demagógico.”
Face a frentes comuns ou federações instrumentais de interesses que integrem ideais que ameaçam ferir a democracia haverá sempre uma frente de oposição. Uma frente antifascista.
Joana Pereira