Eleições legislativas na Jordânia em plena crise económica e sanitária
Os jordanos votam hoje em eleições legislativas sem grandes expectativas, num país em plena crise económica agravada pela pandemia do novo coronavírus.
No final de manhã de hoje, a taxa de participação situava-se nos 13%, com as assembleias de voto a encerrarem às 19:00 locais (17:00 em Lisboa).
Mais de 50.000 elementos das forças de segurança foram deslocados para as 12 províncias com o objetivo de controlar o processo eleitoral, incluindo o respeito pelas regras sanitárias relacionadas com a epidemia.
O último balanço emitido na noite de segunda-feira pelas autoridades do reino, com 10,6 milhões de habitantes, indicou cerca de 115.000 pessoas infetadas pela covid-19, com um total de 1.295 mortes.
Após ter votado na cidade de Aydun, 90 quilómetros a norte de Amã, o primeiro-ministro, Bicher al-Khasawneh, declarou-se "honrado por ter cumprido este dever nacional e este direito constitucional".
Em declarações aos jornalistas, também emitiu a esperança que deste escrutínio resulte "um parlamento que responda às aspirações dos cidadãos".
Os eleitores foram instruídos para usar uma máscara e luvas, e preencher o boletim de voto com uma caneta própria.
A comissão eleitoral estipulou que as pessoas infetadas pelo vírus ou as que se encontram em quarentena não devem votar, sob pena de condenação a um ano de prisão.
Cerca de 4,5 milhões de eleitores foram convocados para eleger os 130 deputados do parlamento, com 15 lugares reservados às mulheres. Apresentam-se 1.674 candidatos, incluindo 360 mulheres, para uma eleição com poucos reflexos na vida do país, onde o rei hachemita possui amplos poderes.
Entre os candidatos incluem-se representantes dos principais clãs tribais, independentes e figuras de esquerda e ainda um considerável número de ricos homens de negócios.
A Frente de Ação Islâmica (FAI), primeira força da oposição e braço político do movimento Irmandade Muçulmana dissolvido em julho, também participa no escrutínio.
A formação dispõe de 17 lugares no parlamento cessante, o maior número de deputados num hemiciclo sem qualquer formação maioritária.
O novo Governo prestou juramento em 12 de outubro, após a demissão do anterior devido à dissolução do parlamento pelo rei Abdullah II em 27 de setembro, após quatro anos de mandato como prevê a Constituição.
O analista Oraib Rintawi, do Centro de estudos políticos Al-Quds, citado pela agência noticiosa AFP, prevê um fraco afluxo às urnas.
"A maioria dos jordanos pensa que o parlamento desempenha uma função marginal no sistema político", e com um atual Governo que não provém das eleições, indicou.
"As pessoas vão votar por motivos tribais, por um candidato do seu clã ou por representantes que lhe forneçam serviços" e não por motivos políticos, explicou.
Diversos candidatos elegeram a situação económica como prioridade, num país onde a taxa de pobreza atinge 15,7% da população, segundo o Banco Mundial.
A Jordânia confronta-se com uma difícil situação económica, com o desemprego situado nos 23% no primeiro trimestre de 2020.
No país do Médio Oriente, onde ainda permanecem diversos campos de refugiados palestinianos, decorreram importantes manifestações de protesto que exigiam em particular aumentos de salários.
Em 17 de setembro, o país também evocou os 50 anos da ampla ofensiva do exército jordano para retomar o controlo dos territórios na posse dos combatentes palestinianos, os "fedayin". Este sangrento "Setembro negro" implicou a eliminação da resistência palestiniana no reino hachemita.
Em 26 de outubro de 1994, 24 anos após o "Setembro negro", o rei Hussein, pai do atual monarca, assina um tratado de paz com Israel, que garante ao Estado judaico a segurança da sua mais longa fronteira e lança as bases de uma cooperação económica. O reino hachemita foi o segundo país árabe a assinar um tratado de paz e o reconhecimento de Israel, após o Egito em 1979.
Na atual situação, o novo coronavírus teve um forte impacto no setor vital do turismo, com milhares de empregos ameaçados.
Desprovido de recursos naturais e muito dependente de ajudas externas, em particular do Fundo Monetário Internacional (FMI), este país duramente atingido pelo afluxo de refugiados sírios regista uma dívida pública que já ultrapassa 100% do seu Produto interno bruto.