Maioria dos alunos que vive em favelas no Brasil ficou sem estudar na pandemia
A maioria (55%) dos alunos que vive em favelas no Brasil ficou sem estudar durante a pandemia da covid-19, sendo que a falta de acesso à internet foi o motivo mais apontado, segundo um estudo hoje divulgado.
Os dados fazem parte de um estudo realizado pelo instituto DataFavela, numa parceria com o Instituto de Sondagem Locomotiva e com a organização não-governamental Central Única das Favelas (Cufa), a que o jornal Globo teve acesso.
De acordo com o levantamento, 34% dos inquiridos relataram não conseguir estudar por falta de acesso à internet, e 21% declararam não estar a receber as atividades letivas por parte da escola ou universidade na qual estão matriculados.
Outros dos motivos indicados são a falta de um local silencioso e adequado para o estudo, má conexão com a internet, ausência de dispositivos adequados, como computador ou telemóvel e a distância dos professores.
Foi ainda identificada uma "centralidade quase exclusiva do telemóvel como meio de acesso à internet entre crianças e adolescentes" de famílias de baixos rendimentos, situação que, segundo o estudo, tem impacto na sua situação de exclusão, porque nem todos os aparelhos eletrónicos têm boa capacidade de processamento de dados e algumas das regiões onde esses jovens residem têm uma rede de internet móvel de má qualidade.
O levantamento ouviu 3.585 alunos e pais de estudantes de favelas de todo o Brasil, entre 09 e 10 de setembro.
"A desigualdade de educação, que é uma das causas estruturais da desigualdade económica, tende a aprofundar-se. É um dado que me preocupa", afirmou o presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, citado pelo Globo.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo número de mortos (mais de 5,6 milhões de casos e 162.397 óbitos), depois dos Estados Unidos.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.255.803 mortos em mais de 50,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.