Madeira

Centenas morreram na Madeira há 217 anos em aluvião

Hoje a Região é um local mais seguro, acredita Pimenta de França, embora não haja risco zero

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Foto DR

Assinalam-se hoje 217 anos sobre a aluvião de 9 de Outubro de 1803 que assolou a Madeira e provocou a morte de centenas de pessoas, principalmente nos concelhos do Funchal, Machico, Ribeira Brava, Santa Cruz e Calheta. Foi uma das maiores catástrofes de que há memória no arquipélago. Hoje a Madeira é um lugar mais seguro, acredita Pimenta de França.

O director do Laboratório Regional de Engenharia Civil assenta esta posição no trabalho que a Região tem vindo a desenvolver nos últimos anos, medidas estruturais e medidas não estruturais que têm minimizado o problema. “Resolver de vez vai ser difícil, mas minimiza o problema, dá mais segurança às populações”, acredita o engenheiro.

Dentro dos dois tipos de medidas, nas estruturais Pimenta de França salienta a regularização de ribeiras, canalizações e açudes de contenção de material sólido, “trabalhos que ainda estão em curso e que evitam que chegue material de grandes dimensões às zonas baixas. Limitam os assoreamentos, ornamentos de margem e consequentemente as inundações.”

Nas medidas não estruturais, as que não se vêem no terreno, o director do LREC refere o sistema de alerta de aluviões que parcialmente já está a funcionar, e o sistema de detecção de incêndios, “porque quando há incêndio o solo fragiliza, está a ser feito”.

Sobre as muitas quedas de pedra e deslizamentos de terra que são frequentemente reportados, Pimenta de França explica que são questões de natureza geológica, e que são incontornáveis. “É o solo que nós temos, é com isso que temos de conviver”. Mas há também trabalho a fazer neste campo, a par do que já tem sido feito. “Mas obviamente estes solos mais frágeis com tendência a escorregamento, em situação de precipitação tendem a escorregar. Mas por isso é que se fazem as medidas estruturais para evitar que o material chegue às zonas baixas”.

Olhando para o que é importante de fazer, destaca a necessidade de concluir o que está no terreno, obras que acredita demoram ainda uns anos. “Também não há muito mais para se fazer, a verdade é essa. Há planos de evacuação, uma série de coisas que se podem fazer, mas são de uma outra natureza.”.

Quanto à ocupação do território, remete para o ordenamento, não é a sua área. Recorda no entanto que há planos directores que já foram revistos e planos de inundação que já estão feitos. “É preciso implementar isso”.

Quanto ao LREC, o organismo tem projectos próprios na área de avaliação de riscos que vão continuar. Uns estão por acabar, outros deverão começar no próximo ano. “É uma questão de financiamento”.

Explica que o trabalho consiste em instrumentam o terreno, recolhem dados e envolve-los em algoritmos que ajudam a determinar uma probabilidade de algo acontecer. “É nesse domínio que trabalhamos. Conjugamos uma série de factores que contribuem para determinados fenómenos, quando eles atingem determinados valores em conjugação, a probabilidade de ocorrer pode ser maior ou menor”.

Sobre a aluvião de 9 de Outubro de 1803, escreveram os autores no 'Elucidário Madeirense': "Neste dia, pelas 8 horas da manhã, começou a cair no Funchal uma chuva não muito copiosa, que se manteve inalteravelmente até às 8 horas da noite, mas nada fazia recear que estivesse iminente uma tão terrível inundação. Principiou então a ouvir-se o ribombar do trovão e a chuva, acompanhada de algum vento, caia já em verdadeiras catadupas. Ás 8 horas e meia as águas das ribeiras galgavam as suas margens e espalhavam-se com grande ruído pelas ruas laterais, começando a sua obra de destruição e de morte. Estava-se em pleno dilúvio. É indescritível o pavor que se apossou dos habitantes, que maior se tornou ainda pelo inopinado do acontecimento, que a um grande número apanhou de surpresa e sem possibilidade de pôr-se ao abrigo do perigo que a todos ameaçava. A morte surpreendeu a muitos na fuga, arrastados pela violência das correntes ou atingidos pelas derrocadas das casas e paredes que se desmoronavam". Segundo esta obra, terão morrido seiscentas pessoas, a maior parte no Funchal.

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