Turismo sustentável. Um novo recomeço?
O novo ciclo será por isso de um Turismo de descoberta. Da procura de novas sensações, da aventura e do bem-estar
Nunca, em toda a história da humanidade, o Turismo cresceu tanto e movimentou tanto dinheiro como neste século. A globalização do Mundo, a implementação do Espaço Schengen, a moeda única na União Europeia ou a parcial abertura de certos Países reconhecidamente mais fechados, foram condimentos que misturados com a aparição das companhias aéreas low-cost democratizaram e até em certos casos banalizaram aquilo que era outrora toda a preparação de uma viagem para outro País. Tudo se tornou mais simples, mais direto, seguro e barato. Isso fez com que disparasse o número de turistas que circulavam um pouco por toda a parte e de certa forma mudou o jogo em termos económicos e sociais dando novas e diversificadas ferramentas a Países até então votados à cauda do crescimento. Foi o caso de Portugal, que aproveitou a onda favorável e o epíteto de “destino da moda” para se modernizar e ajustar o seu serviço, como já se fazia há alguns anos no Algarve e na Madeira.
Apareceram centenas de novos empreendimentos turísticos e milhares de soluções ao nível do alojamento local. Casas transformaram-se em turismos de habitação, prédios em hotéis e apartamentos em soluções AirBnB. O turismo de massas cresceu, padronizado e encaixotado em formatos estereotipados. Em muitas situações, de forma desmesurada, não tendo sido acompanhada por melhores condições, aeroportos maiores e cidades mais organizadas. Isso fez com que muitas delas, perdessem um pouco o seu bairrismo e a sua essência perante o consumismo desenfreado, tornando-as apenas postais sem aquela magia que só os nativos que vivem e sentem de uma forma especial lhes podem emprestar. Um maná que parecia não ter fim. Em muitos locais era só abrir a porta, não interessava se tinha experiência no ramo ou se a renda era cara. Tudo dava e pronto. Mas como diz o provérbio, “tudo o que é bom, acaba depressa”. E assim foi. Com a pandemia tudo mudou. As pessoas fecharam-se em casa, perderam a confiança e num ápice, aquilo que era um negócio próspero e infalível tornou-se num desespero. Quando os investimentos começavam a ser pagos e aparecia no horizonte o lucro, o Mundo fechou-se com receio de um vírus que mudou de vez as nossas Vidas.
Nada voltará por isso a ser como dantes. Pode vir a ser muito melhor, mas igual não será por certo. É por isso premente que as marcas, os empresários e toda a indústria em si se reposicione rapidamente para não perder o comboio. Aquilo que era uma escolha focada no preço será substituída pela confiança, segurança e diversidade. Tendo sempre como ponto de partida um pensamento sustentável, ecológico e orgânico. Que mesmo exigindo um custo maior, nos trará maior conforto e uma experiência mais valorizada e preenchida e por isso mesmo mais atrativa. Podem fingir que nada se passa mas podem ter a certeza que o tema da Pegada Ecológica veio para ficar. E o desafio neste momento coloca-se à sociedade, à indústria e aos governos. Mas também às novas Start-Ups. Encontrar soluções inovadoras e criativas que nos levem para um novo Turismo. Reinventar conceitos e acima de tudo dinâmicas, que prezem mais a saúde física mas também a mental. A cultura, a história e o conhecimento. Que nos traga de volta para as nossas raízes, que nos permita um reencontro com a natureza e com a nossa essência. Na gastronomia, nas habitações e nos materiais.
O novo ciclo será por isso de um Turismo de descoberta. Da procura de novas sensações, da aventura e do bem-estar. Da valorização da nossa mente e do reencontro com o que nos rodeia. Do prazer do concreto, do mais simples. Quero acreditar que mais para nosso gozo pessoal e menos para as aparências. Será com toda a certeza no mínimo, curioso e estimulante de ver, como iremos conseguir conjugar uma era cada vez mais digital com um Turismo mais sustentável, cheio de intensidade. Como iremos equilibrar a frugalidade com a necessidade, a descoberta com a preocupação ambiental. Conseguiremos nós preservar as nossas riquezas perante os nossos prazeres? Será um novo recomeço ou o princípio do fim (destruindo os poucos locais do Planeta onde ainda podemos usufruir de ar puro e qualidade de vida)? Saibamos aproveitar a nosso favor, de uma forma mais consciente, mais justa e mais solidária também. Que saibamos ter essa inteligência contemporânea de preservar o que nos equilibra e que finamente nos viremos também para o Mar.