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Chamem a polícia… mas sem o bigode enrolado

Neste último mês ouvi duas notícias que me deixaram preocupada. Aqui no calhau, como alguns meus amigos chamam a esta ilha, dois polícias portaram-se mal. Um arriou na mulher, uma pequena que conheço e que ainda por cima foi atacada por estar a defender a própria vida e estar em regime de teletrabalho. O outro, apanhado nas malhas do tráfico de droga. Resposta da direção nacional da PSP na semana seguinte: as mulheres polícias não podem usar decotes dentro das esquadras. Tive de consultar várias fontes para me convencer de que os grandes problemas da polícia, neste momento, são o tamanho da franja das mulheres-polícia e os bigodes encaracolados dos colegas delas. A sério?

Aqui no calhau, onde todos os dias encontro polícias a lanchar na padaria do rés-do-chão, vou passar a inspecionar as patilhas deles e os cabelos que não podem ultrapassar a gola. E pedir para despir para ver onde andam as tais tatuagens de natureza partidária, racista, extremista ou de incentivo à violência.

Então alguém que me explique: se um polícia se candidatou à corporação com a tatuagem, não devia ter sido excluído? Se a fez depois de ter entrado na PSP, não devia ser expulso? Simples. Uma pessoa com tatuagens racistas, extremistas e de incentivo à violência não pode usar uma farda de uma força de segurança, sob pena de quando for para uma rixa andar a escolher quem vai salvar mediante as simpatias e a cor da pele. Ou eu é que estou a ver mal? Vá lá que a mim não me proibiram de usar óculos espelhados, como a eles.

Esta coisa dificultou-me a tarefa. Vai ser tão difícil como pedir uma pizza. Quando ligo para a comida, perguntam quantos ingredientes quero, quando eu ligar para a esquadra, tenho de fazer bem o pedido: por favor, mande-me um homem com bigode acima do lábio superior, sem as pontas encaracoladas. Se for mulher, ela que venha com maquilhagem discreta, sem franja abaixo das sobrancelhas e com verniz de cor única em unhas de três milímetros. Quando me perguntarem se quero com ou sem tatuagens, pergunto se posso pedir colorigas ou de uma cor só. É que quando acabarem de me perguntar o que quero, já me mataram, como me matam por dentro estas medidas, que só podem vir de alguém com muito pouca coisa para fazer ou com as prioridades trocadas.

Até me faz lembrar o dia em que regressei das Ilhas Selvagens e vi um marinheiro sair do navio-patrulha onde prestava serviço vestido de kilt a caminho de uma esplanada próxima para ver um jogo da seleção da Escócia. Não deu vento e por isso não consegui ver se tinha a tatuagem à mostra, mas se eu mandasse (ah, se eu mandasse!) não voltava a embarcar. Nem a vestir uma farda…

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