Que médicos queremos?
Não se pode querer que os médicos sejam super-homens, com valências em todas as áreas, que tomen decisões perfeitas em momentos de stress e que 24h/24h estejam sorridentes. Mas temos o direito de exigir que a nossa saúde lhes mereça o maior respeito e que nos tratem com o mínimo de dignidade e mais sentido de humanidade.
Quase todos os dias somos confrontados com notícias pouco abonatórias relativamente ao desempenho de alguns profissionais de saúde, de um modo particular a alguma presumível negligência médica. Caberá aos tribunais julgar e punir, mas a nós assiste-nos o dever e a obrigação de denunciar o que acharmos não estar correcto. Não com o propósito de difamar quem quer que seja, mas com o objectivo de poder melhorar o que pode e deve ser melhorado. Pelos corredores e salas de espera das unidades de saúde públicas ouve-se e sente-se o descontentamento dos utentes, traduzidos por palavras e gestos que, num passe de mágica, no contexto de consultório médico, se transformam em amabilidade e mesuras para o clínico(s) antes visado. Sintomático da falta de coragem, do medo de represálias, de falta de alternativas? . Cada um que tire as suas ilações.
Enquanto não houver registo de queixas nos locais apropriados e nos canais certos parte-se do princípio que tudo está bem. Mas nós sabemos que não, quando somos tratados com arrogância, aspereza e prepotência.
Não está bem não termos acesso à consultas de especialidade quando delas precisamos com alguma urgência e vamos integrar uma lista de espera interminável.
Não está bem termos de recorrer ao estratagema de uma “falsa” urgência porque o nosso médico de família tem sempre a agenda preenchida.
Não está bem fazer - se diagnósticos sem se fazer valer dos meios auxiliares de diagnóstico adequados, para que não se incorra no risco de fazer colapsar emocionalmente o utente confrontando-o com uma doença grave de que não padece.
Não está bem (digo eu) quando muitos idosos doentes, em fase terminal, tenham de morrer longe das suas famílias, (evacuados para a Madeira) com todo o constrangimento que isso implica.
Não está bem que contemos
apenas como mais um número na estatística das consultas efectuadas e não como pessoas.
Não está bem quando se burocratiza cada vez mais procedimentos administrativos, quando urge simplificá-los.
Não está bem quando se oculta dos superiores hierárquicos as reais necessidades em recursos humanos e materiais, fazendo-lhes crer que tudo funciona eficazmente.
Não está bem quando, na presença de terceiros, se humilha e ridiculariza o desempenho profissional dos colegas.
Não está bem quando temos de implorar pelos nossos direitos, quando quem tem o dever de os satisfazer se mostra renitente.
Não se pode nem deve confundir a árvore com a floresta, mas não se pode nem deve ignorar o óbvio.
Há excelentes médicos e outros profissionais de saúde que se revelam verdadeiros”anjos”na nossa vida. Já me cruzei com eles e estou profundamente grata. Estão e estarão sempre em vantagem. Os outros, cuja boa conduta é ética profissional fecharam na gaveta,pertencem a uma minoria sem expressão significativa. Ainda assim, por onde vão passando, provavelmente, farão algum estrago...
Queremos médicos que exerçam a sua actividade, nunca perdendo de vista o juramento de Hipócrates, que um dia fizeram para abraçar tão nobre e digna profissão.
Pela saúde de todos nós.
Madalena Castro