Artigos

Pecados alheios

A corrupção é um mal endémico no nosso Portugal, e o principal entrave ao seu desenvolvimento

Temos um hábito antigo de corrigir os outros. Tão antigo e tão universal que é já era referido no Evangelho segundo S. Lucas: Deixa, irmão, que eu tire o argueiro do teu olho, não vendo tu mesmo a trave que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão. Nem é preciso ser crente para avaliar a justeza deste preceito; basta o fundo cultural comum das religiões monoteístas da Eurásia.

Como muitos outros ensinamentos, este também vem sendo esquecido. Não só na nossa vivência do dia-a-dia, mas na daqueles que, por estarem mais bem colocados, dão mais nas vistas.

Dir-se-ia mesmo haver uma contracultura neste campo: na defesa de interesses individuais ou coletivos (em sentido restrito), a palavra de ordem é cerrar fileiras.

Decerto é uma pressão ditada pela solidariedade, mas esta tem os seus limites. Mas o mesmo parece não se aplicar a terceiros: aí, a solidariedade até parece absurda.

A consequência lógica são dois pesos e duas medidas, uma para “nós”, outra para “os outros”. Como se a Lei tivesse sido criada para casos particulares, em vez de ser universal, baseada na igualdade dos Homens.

As coisas tornam-se mais nítidas com os casos mediáticos, em que os julgamentos decorrem na praça pública, até por ação do Poder Judicial, que por vezes recorre à fuga de informações para quebrar os pactos de silêncio decorrentes da defesa de grupo.

Exceções há. Alguns casos decorrem presentemente na área militar, em que se avançou para os tribunais, doendo a quem doesse. E, nesses os casos, foi feito apelo geral à Ética e ao Dever, considerados apanágio da Instituição Militar.

Nenhuma instituição beneficia com a ocultação do crime, a proteção dos infratores ou a sonegação de factos, vulgo “varrer para de baixo do tapete”.

No melhor pano cai a nódoa, diz o velho ditado. Pelo que responsabilizar os membros pelos seus atos não desprestigia uma instituição; pelo contrário, reforça a sua imagem.

A corrupção é um mal endémico no nosso Portugal, e o principal entrave ao seu desenvolvimento. Todos temos esse sentimento, talvez mesmo aquele governante que um dia disse que “em Portugal não há corrupção”.

Não há vacina para esse vírus; apenas a aplicação diária das vitaminas da Moral e da Decência.

Fechar Menu