Especialista em saúde pública discorda de testes na origem das viagens
O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública comentou ao DIÁRIO as palavras do presidente do IASaúde
O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública afasta uma estratégia de testagem dos viajantes na origem como forma de prevenir a entrada de população infectada com covid-19 nos destinos. Ricardo Mexia reagia ao DIÁRIO, esta manhã, sobre o que afirmou ontem Herberto Jesus à TSF Madeira (num trabalho que também pode ler na edição impressa do DIÁRIO desta segunda-feira) quando o presidente do IASaúde criticou, à semelhança de outros governantes regionais, a falta de uma estratégia europeia que radique a testagem à partida para que os países não exportem casos positivos.
"A estratégia de testagem tem é que ser integrada nos diversos países. Focarmo-nos na questão das pessoas que se movimentam é muito pouco relevante para um contexto como a Madeira ou outra zona mais restrita. As ilhas, nesse sentido, têm aqui uma vantagem no que diz respeito à capacidade de controlo, porque se não importarem casos naturalmente controlam a doença de forma muito mais fácil. Mas no contexto global, provavelmente era uma estratégia que não teria assim tantos dividendos, na medida em que nós também não conseguimos testar toda a população. E, portanto, a população que viaja não é tão diferente da população que reside", justificou o especialista em Saúde Pública.
Ricardo Mexia reconhece que a estratégia faça sentido para a Região, mas afasta que seja eficaz em todo o mundo: "Na Madeira impedem a importação de casos, mas numa estratégia global talvez fosse mais difícil de implementar e em termos de custo/benefício talvez não fosse o mais adequado. É natural que importante ter uma estratégia de testagem integrada, mas talvez não nesta lógica de rastreio universal sendo aqui no sentido de quem viaja".
O presidente da Associação Nacional de Saúde Pública concorda, por outro lado, com o que afirmou Herberto Jesus sobre "ser catastrófico" o surgimento de um surto na Madeira devido ao número de habitantes.
"A densidade populacional é um factor que pode condicionar uma gravidade maior no surgimento de um surto pela proximidade, há mais pessoas juntas. Isso, naturalmente, gera maior probabilidade de disseminar a doença, afirmou Ricardo Mexia ao DIÁRIO, sublinhando que foi precisamente isto que aconteceu nas zonas mais críticas para a pandemia, no país: "No contexto continental, nos locais em que temos mais densidade é o contexto em termos de surtos com maior dimensão. Foi o que aconteceu aqui na região de Lisboa e Vale do Tejo durante a fase de Maio a Julho; foi o que aconteceu numa fase inicial também na região norte e que agora voltamos a ter naqueles três concelhos com maior densidade, em que é esse o problema".
Imaginem o que é um surto numa Região com a densidade populacional como a nossa. É catastrófico" Herberto Jesus, presidente do IASaúde, à TSF-Madeira
É por isso que o também médico de Saúde Pública do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, defende que as medidas devem ser tomadas por antecipação: "Quanto mais cedo conseguirmos controlar as cadeias de transmissão, naturalmente menor dimensão assumem os surtos. Mais vale ser proactivo do que reactivo, ou seja depois de já termos a situação muito disseminada, mesmo implementando medidas, teremos sempre mais dificuldade em conter o problema do que se antecipadamente tivermos implementado as medidas. Isso é notório", sustentou, acreditando que neste ponto a Região tem trilhado um caminho eficaz: "A Madeira nesse sentido, comparando com as outras regiões, tem tido mais sucesso no combate à pandemia, sendo que nas ilhas, em contextos mais isolados, têm vantagem. Se a insularidade tipicamente é um custo e algo que prejudica, neste contexto acaba por ser algo que protege as populações. Estão a levar isso a vossa vantagem e, a meu ver, bem", concluiu Ricardo Mexia.
Especialista alerta que rastreio com testes no Aeroporto da Madeira “não será particularmente eficaz”
O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, alertou, esta noite, em entrevista à TVI24, que os dados que os especialistas dispõem sobre o rastreio com testes aos turistas que vão chegar ao Aeroporto da Madeira a partir de 1 de Julho “apontam para que não seja particularmente eficaz” na detecção de doentes com Covid-19.
IASAÚDE diz que haver um surto de Covid-19 na Madeira “é catastrófico”
Herberto Jesus avisa que Região vai tomar “medidas duras” para “preservar a vida”
Élvio Passos , 25 Outubro 2020 - 16:10