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TAPando os olhos

Aproxima-se a sexta edição do Madeira PianoFest, uma iniciativa com que a Associação Amigos do Conservatório de Música da Madeira faz uma aposta forte na continuação e vitalidade da vida cultural em contexto específico da pandemia. Se a organização de um evento deste tipo, que conta com artistas convidados de vários países, é, logisticamente, sempre um desafio, neste ano a situação foi ainda muito mais complicada pela incerteza relativamente às viagens de ida e volta destes países. Ninguém podia adivinhar nem há um mês atrás, e quanto menos em junho ou julho, qual seria a situação epidemiológica nesses países, quais as restrições que iriam estar em vigor, quais as rotas aéreas que iriam permanecer funcionais e qual seria o estado de saúde de todos os participantes no Festival.

Em julho, a organização adquiriu as passagens para todos os artistas e essa parte da organização parecia estar definitivamente resolvida. Qual o meu espanto quando, no dia 30 de setembro, começaram a chegar alterações dos voos, para todos os seis pianistas convidados. E não uma, mas sim duas alterações completas no mesmo dia. Do tipo de implicarem, quase para todos, pernoitamento em Lisboa e saída para cá de madrugada…inclusive já no dia do concerto. Ou então, de deixarem cinco minutos para mudança de avião em Lisboa. Aqui, então foi necessário passar no total cerca de três horas ao telefone com a TAP, com umas 7-8 interrupções da linha mesmo antes de ter sido atendido, ou então, cortes no meio das chamadas, sendo que as alterações dos voos para algo minimamente possível foram concluídas apenas com o quarto agente da TAP (o que implica, claro, que toda a história teve de ser contada quatro vezes do início, pois não ficava nada registado no computador). No meio destas alterações, apercebi-me até que um certo voo de Lisboa para Itália já nem existia, sem entretanto ter sido notificado sobre o facto. Será que alguma vez ia ser notificado? Na véspera talvez? Mas pronto, esse passo foi concluído de maneira a que os voos permitissem a todos chegar à Madeira a tempo e horas e regressar DEPOIS do concerto (sim, houve uma alteração que implicava o duo pianístico regressar ainda antes da hora do seu concerto). Não acaba aqui. Entre os dias 6 e 15 de outubro recebi mais três alterações para quase todos os voos, mas estas pelo menos foram mantendo os dias certos e as ligações possíveis. Tenho a certeza de que a história destas peripécias com a TAP foi vivida e, provavelmente, superada, por muitos dos nossos concidadãos.

Neste momento, só resta fechar os olhos e esperar que nada mais aconteça neste sentido. Já é suficiente a ansiedade com o sempre pior contágio em quase todos países da União Europeia e as medidas que surgem de um dia para outro, quase sem tempo para reação.

Talvez seja uma boa altura de “contar as bênçãos” – a Região continua a apoiar este tipo de iniciativas mesmo numa situação precária, o Teatro está aberto e continua a apostar na arte ao vivo e presencial, os artistas são, por enquanto, todos saudáveis e a situação até permite esperar alguma presença do público.

Entretanto, continuamos a ter coragem e, conforme as palavras que nos honram do cronista do DN, João Paulo Marques, em agosto, continuamos a ter “fé inabalável naquilo que fazem(os). Em tempos de incerteza, haverá maior atrevimento que esse?”. O que nos resta mais? Esperamos realizar, entre 7 e 15 de novembro, um PianoFest com programação intacta, contando aqui com a contribuição preciosa da Orquestra Académica do Conservatório e do seu maestro Francisco Loreto, e com o público a nos honrar, presenciando as criações artísticas ao vivo. Essas, sim, têm o poder de nos ajudar a ultrapassar estes momentos difíceis, transportando-nos para um universo em que a humanidade continua a ser a qualidade mais estimada dos humanos.

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