Alguém acha que sou “Mira”?
Após a secundária (bachillerato), vim da Venezuela, aos 17 anos de idade, e em pouquíssimo tempo deixei de ter qualquer sotaque à “mira”, quem o tem é porque quer e gosta de ser distinguido onde quer que esteja, por, talvez, achar-se mais importante e que isso é chique.
Tenho a dupla nacionalidade e conheço muitíssimos que vieram comigo na mesma altura, alguns bastante depois, que continuam a falar à “mira” e os filhos que cá tiveram, aliás têm, que nunca estiveram na Venezuela, também falam à “mira”. Toda a gente sabe que o que digo é verdade, porque disso temos exemplos por todos os cantos da ilha.
Se não querem ser “gozados” façam por isso e não venham com tretas de xenofobia e coitadinhos; deixem, isso sim, de fazerem figuras ridículas e demonstrem que são tão inteligentes quanto os vossos pais e avós, ou até bisavós, que chegaram à Venezuela sem conhecer a língua e adaptaram-se a ela de tal modo que quando falavam nem deixavam perceber que eram ali imigrantes.
Da minha parte, falo e escrevo com a mesma perfeição tanto em castelhano quanto o português.
Política aparte, porque sou apartidário, se formos a discutir e entrar na vertente da xenofobia eu posso dizer que já fui vítima dela, precisamente na Venezuela, pois, por ter apelido português, na escola, quando era chamado pelos professores, ouvia alguns gracejos menos agradáveis por parte de alguns alunos, tais como, por exemplo, “tenemos otro muerto de hambre entre nosotros” (temos outro morto de fome entre nós), que era o que os venezuelanos costumavam chamar aos imigrantes, portugueses e não só...
José Gouveia Batista