Coordenadora do CASA pede plano "concreto e objectivo"
Números da pobreza ainda devem subir, acredita Sílvia Ferreira
Não surpreendeu Sílvia Ferreira o aumento este ano do número de casos de pobreza extrema na Madeira, ou não convivesse ela diariamente com situações críticas. A coordenadora regional do CASA – Centro de Apoio ao Sem-Abrigo revela que há também na instituição que dirige um aumento do número de pedidos de famílias carenciadas e que são precisas políticas e medidas alternativas, “diferentes” das até agora implementadas. Há também mais casos de doença mental provocada pelo consumo de substâncias sintéticas e aumento de insegurança.
Há muitas famílias em risco, alerta a técnica que através do CASA procura melhorar a situação dos agregados e simultaneamente de quem já está na rua. Diz que é preciso um plano e é preciso apoiar, dar condições, para depois então trabalhar a pessoa. Uma casa e um prato de comida é o mínimo, na sua opinião. “Gastamos dinheiro para as mesmas coisas. É preciso um plano concreto e objectivo”, defendeu.
A dirigir uma das primeiras portas que se abrem a quem se vê numa situação difícil, conta que no CASA estão “sempre com a batata quente na mão”. Neste momento são já 590 as famílias inscritas para apoios, entre os concelhos de Santa Cruz, Funchal e Ponta do Sol, mas os números reais vão para além. “Nós dissemos que não aceitávamos mais famílias, mas continuam a bater à porta, não estamos a inscrevê-las, mas estamos a aceitá-las”.
“Nem me estranha surgirem números destes”, confessou Sílvia Ferreira sobre a má-nova que faz a principal notícia da edição de hoje do DIÁRIO. Estima que os números se agravem ainda mais, dadas as situações de lay-off.
“O que eu acho é que numa fase como esta da pandemia temos de ter medidas alternativas de políticas sociais diferentes destas que estamos a ter agora.” Pedindo para concretizar, defendeu um rendimento básico como ponto de partida. “Vamos dando, mas temos consciência que o que vamos dando não é suficiente”, admite.
Sílvia Ferreira alerta ainda para o aumento de pessoas com patologias nas ruas, pessoas com dependências e diz que o problema da saúde mental é “uma grande questão”. “A maior destas pessoas que estão na rua já desenvolveram patologias, estão a consumir drogas sintéticas. Para isso ainda não há cura, é um caso sério.” E conta que neste tempo de pandemia chegou, pela primeira vez na sua vida, a ter receio de lidar com alguns deles, que estavam sob o efeito de substâncias. Segundo a técnica, ficam completamente alterados e depois não se recordam do que fizeram.
“Temos um longo caminho para fazer e não se avizinha nada de bom”, teme.
Cada vez mais pobres na Madeira
Notícia faz manchete na edição impressa do DIÁRIO desta quinta-feira
Ana Luísa Correia , 22 Outubro 2020 - 07:00