ZERO pede aos municípios que "melhorem rapidamente" saúde dos cidadãos
A associação ZERO apelou aos municípios para melhorarem "rapidamente a saúde dos cidadãos", após a divulgação de um estudo que estima que os custos sociais da poluição atmosférica em Lisboa e Porto chegam aos 862 milhões de euros anuais.
O estudo da Aliança Europeia para a Saúde Pública (EPHA, na sigla original), realizado em 2018, demonstra que os custos sociais totais dos problemas causados pela poluição do ar nas cidades são iguais a 3,9% do PIB, o que significa que cada cidadão europeu perde, em média, mais de 1.000 euros por ano em bem-estar devido à má qualidade do ar.
Nesse sentido, numa iniciativa conjunta com a organização europeia sem fins lucrativos HEAL (Health and Environment Alliance), que trabalha na relação do binómio saúde-ambiente, a associação ambientalista portuguesa aproveitou para destacar, em comunicado, a importância de melhorar a saúde dos cidadãos "de forma dramática e rápida" através da implementação de um conjunto de medidas.
"Centros urbanos sem carros, com espaços verdes e áreas pedonais; Expansão de ciclovias seguras dentro e ao redor dos centos das cidades; Alternativas de transporte público para todos, [que sejam] confiáveis, acessíveis, económicas e sem recorrer ao uso de combustíveis fósseis; e expansão de áreas verdes como parques, jardins comunitários ou plantação de fachadas (paredes verdes)", são as medidas sugeridas pela ZERO e a HEAL.
O estudo da EPHA examinou 432 cidades de todos os países da União Europeia (UE) e ainda do Reino Unido, Noruega e Suíça. Somados, os custos da poluição atmosférica para os residentes nessas cidades chegam a 166 mil milhões de euros por ano, cerca de 385 milhões de euros, em média, por cidade.
Em relação a Portugal, a poluição atmosférica tem um custo para um habitante de Lisboa de 1.159 euros e custa anualmente 635 milhões de euros à cidade que, lembra o presidente da ZERO, tem este ano uma responsabilidade acrescida na promoção da qualidade ambiental.
"As políticas e medidas para reduzir a poluição atmosférica em Lisboa são urgentes e têm de ser implementadas muito mais rapidamente para que possamos reduzir os enormes custos com saúde, mas também como melhor resposta de uma cidade que, em 2020, é a Capital Verde Europeia", afirma Francisco Ferreira no documento enviado à Lusa.
No Porto as perdas são menores, passando a 950 euros anuais por pessoa e custos de 226 milhões de euros para a cidade.
"Na cidade do Porto é importante continuar a investir nas ciclovias e transformar as zonas centrais da cidade em zonas pedonais, de forma a melhorar a qualidade do ar da cidade e reduzir os custos sociais associados à má qualidade do ar", apontou, por sua vez, Susana Paixão, da Sociedade Portuguesa de Saúde Ambiental.
Em Faro os valores são ainda mais baixos, 775 euros e 50 milhões de euros, por pessoa e pela cidade, respetivamente, e em Coimbra a poluição tem um prejuízo per capita de 598 euros, mas o prejuízo anual para a cidade é de 85 milhões, mais do que em Faro.
Na lista das cidades examinadas em Portugal estão ainda o Funchal, com danos causados pela poluição avaliados em 67 milhões de euros por ano, com um valor per capita de 603 euros, Setúbal, com danos de 115 milhões, 954 euros por habitante da cidade, e Sintra, com danos de 236 milhões e um valor individual de 625 euros.
No documento agora divulgado, a EPHA lembra, citando a Agência Europeia do Ambiente (AEA), que a poluição atmosférica é a causa número um de mortes prematuras por fatores ambientais na Europa.
Num documento divulgado na última quinta-feira a AEA afirma que o ar da Europa é hoje mais limpo do que há meio século, mas acrescenta que ainda assim as avaliações anuais da qualidade do ar na Europa "mostram consistentemente que a poluição atmosférica continua a representar um perigo para a saúde humana e para o ambiente".
E alerta que os níveis de poluição atmosférica em muitas das cidades europeias ainda excedem tanto os limites legais da UE como as diretrizes da OMS para a proteção da saúde humana. E estima que todos os anos cerca de 400.000 europeus morrem prematuramente devido à má qualidade do ar.
Além da perda de vidas, ainda de acordo com a AEA, a poluição tem "impactos económicos consideráveis", aumentando os custos na saúde e reduzindo a produtividade. E prejudica o solo, as culturas, as florestas, os lagos e os rios, e as próprias casas, pontes e outras infraestruturas.