Crónicas

Funchal, a cobiça maior

O destino do governo regional é a primeira prioridade para o PSD

As eleições autárquicas começam a desenhar o quadro político dos principais partidos. Ainda que pouco significativas, se os resultados se aproximarem dos anteriores, mas com repercussão interna nas lideranças partidárias caso se verifiquem vitórias ou derrotas inesperadas. E nas autárquicas tudo pode acontecer. A qualidade individual dos candidatos por vezes surpreende os eleitores causando resultados contra a corrente.

Tenho para mim que no Funchal Pedro Calado é o candidato certo para enfrentar o actual edil Miguel Gouveia. Conhece a câmara melhor que ninguém e isso dará credibilidade a todas as suas propostas. Tem imagem forte e dificilmente poderão invocar fragilidades ou apontar censura.

Outra coisa é saber da sua disponibilidade. Pessoal e política. A primeira só diz respeito ao próprio. A segunda já merece comentário.

Pedro Calado foi uma extraordinária mais valia para o governo e liderança de Miguel Albuquerque. Foi o golpe decisivo para o governo do PSD. Entre sondagens perdedoras e o pessimismo dos militantes aparece Pedro Calado com a sua personalidade e distanciamento social e político. É uma benção para o governo do partido laranja que relança a sua dinâmica vitoriosa a partir do congresso no final de 2018.

Agora, vá lá saber-se qual a ordem de prioridades de Albuquerque: arriscar uma substituição no governo, com muita probalidade de falhar em arranjar vice-presidente tão eficiente, ou dar o tudo por tudo para ganhar a Câmara?

Penso que o destino do governo regional é a primeira prioridade, insistindo no foco do PSD recuperar a maioria parlamentar. E Calado é indispensável.

Mas sem dúvida que uma vitória no Funchal é troféu saboroso que vale investimento político.

Desde logo para o candidato vencedor. A acontecer recolhe um capital político próprio e valioso que o faz poder pensar em voos mais altos. É ver o percurso de Miguel Albuquerque e daí criar expectativas. Em política tudo pode acontecer, logo também pode repetir-se o percurso anterior.

Mas também é fundamental para o PSD. Seria o regresso à dinâmica que o partido sempre teve desde a fundação e o afastar da ideia que sem Alberto João Jardim não se conseguem vitórias decisivas.

No tempo do anterior líder teríamos hipóteses seguras de vencer para aí com uns dez candidatos diferentes. Era outra realidade política. Agora já não é assim. Com o nosso melhor candidato não há garantia de vitória e ainda há que avaliar se uma coligação com o minguante CDS acrescenta ou reduz o número de votos. Ainda que ridículo, é ainda preciso saber se o CDS exige a presidência da assembleia municipal ou, vá lá adivinhar, da própria câmara para entrar numa coligação. Por lá já deve haver algum artista a congeminar essa oportunidade.

Um outro dado é saber da valia da candidatura de Miguel Gouveia, por enquanto politico sem filiação partidária, e dos cenários de uma coligação de esquerda ajudada por alguma direita ultra conservadora sempre anti-PSD (alguns do CDS). É sempre difícil destronar um presidente eleito anteriormente, que não é o caso presente já que para Gouveia esta é a sua estreia eleitoral como líder de uma candidatura.

É uma pessoa equilibrada que veremos avaliada pelo eleitorado que elegeu Paulo Cafôfo.

Duas certezas: o resultado das autárquicas é uma absoluta incógnita e uma vitória social democrata seria o prenúncio para um bom resultado nas legislativas de 2023. E merecido por Albuquerque.

Seria o início da reconquista dos três grandes activos políticos entretanto perdidos: maioria absoluta parlamentar, Funchal e maioria das câmaras.

Um PSD, novamente mobilizado a partir do congresso de Novembro, pode muito bem iniciar uma cruzada pela social democracia.

Corrupção

Para um político é a pior das suspeitas. Uma eventual tardia absolvição judicial não anula a imediata condenação da opinião pública. A carreira política faz-se sob suspeita e não há forma de evitar o arremesso político dos adversários. A verdade é que o povo “sabe” sempre quais os que, em sua opinião, podem pecar e os que não. Mas pode, como muitas vezes acontece, ter opinião errada.

Não há boa solução para este pesadelo. As leis são feitas pelos políticos e o veneno que experimentam é normalmente ardil do próprio.

A denúncia anónima é resultado de uma deficiente vivência democrática que ainda não enobrece a descoberta e denúncia pública de infrações e crimes. Num meio como o nosso a denúncia ainda é avaliada consoante a relação com o acusado. A denúncia de um amigo é pura sacanice enquanto a de um rival já é absolutamente oportuna ainda que tardia. Somos assim. Temos ainda um longo caminho a percorrer como cidadãos livres e responsáveis. Um dia lá chegaremos.

Na década de oitenta do século passado, generalizou-se a bilhardice sobre eventuais actos de corrupção dos membros do governo regional e outros políticos. Era a forma de fazer política para os desesperados partidos eternamente perdedores. O PS e o PCP lideravam essa boataria. O objectivo era fragilizar a gestão política de Alberto João Jardim levantando suspeitas sobre a governação pública. Jardim teve uma iniciativa à sua maneira: deu um prazo ( trinta dias ? ) para que, quem quer que seja, lhe apresentasse casos concretos de corrupção ou outras irregularidades, nunca sob a forma de anonimato, com a promessa de envio para o ministério público. No fim desse prazo foi ao parlamento apresentar o que tinha recebido e ouvir os deputado: Nada de concreto e apenas “estórias da carochinha”. De imediato parou essa nojenta forma de intervenção política.

Ontem uns, hoje outros.

Obviamente que o importante não é a forma da denúncia mas sim a veracidade do conteúdo. O apuramento e julgamento das suspeitas leva demasiado tempo: um quarto da vida activa do suspeito. É insuportável. São suspeitas que retiram logo uma conclusão: este tipo só se limpa daqui a dez anos.

Os bons e os maus só se sabem daqui a muito tempo. Até lá presumem-se todos inocentes.

Eleições americanas

Estou farto de rir ouvindo os comentadores portugueses a falarem sobre as eleições entre Trump e Biden. Não comentam o que se passa nos Estados Unidos. Dão opinião como se fossem em Portugal. Comunistas portugueses dando palpites sobre um país que é só o mais rico do mundo porque não existe essa espécie de sabotadores.

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