Venezuelanos tentam renovar documentos no primeiro dia de flexibilização da quarentena
A Venezuela registou esta segunda-feira longas filas de utentes junto do Serviço Administrativo de Identificação, Migração e Estrangeiros (SAIME), que abriu pela primeira vez em sete meses, à espera para renovar documentos de identificação e passaportes.
Esta é a primeira vez, desde que o início da quarentena preventiva da covid-19, a 13 de março, que o SAIME abre as portas para que os venezuelanos e estrangeiros atualizem os seus documentos.
Em Caracas, a Lusa contactou que centenas de pessoas, em fila à entrada dos escritórios do SAIME, na Plaza Caracas (centro), San Bernardino (centro), La Urbina (leste), Los Ruíces (leste) e La Trinidad (sudeste), esperavam e alguns queixavam-se aos jornalistas de que apenas atendiam os cidadãos cujo último número da Cédula de Identidade (BI) terminava em 0, 1, 2, 3.
Na Plaza Caracas, sede principal do SAIME, pelas 08:00 horas locais (13:00 horas em Lisboa) funcionários daquele organismo contaram 600 pessoas em fila.
Usando máscaras a tapar a boca, algumas pessoas queixavam-se ainda que a aglomeração impedia respeitar o distanciamento social obrigatório, de 1,5 metros, entre pessoas e que em La Trinidad o atendimento foi afetado por falhas de energia elétrica.
A comerciante portuguesa Maria Manuela Andrade esperou mais de três horas em fila, em Plaza Caracas, e optou por regressar a casa sem a esperança de renovar o seu BI de cidadão estrangeiro, que caducou em abril.
"Além da 'cédula' (BI) preciso também renovar o meu visto de residência, mas disseram que ainda não há data prevista para retomar o atendimento para vistos e passaportes. É uma situação complicada porque devo viajar em breve", disse à Agência Lusa.
Vários lusodescendentes disseram à Agência Lusa que além do BI tinham que "renovar o passaporte" porque esperam a reabertura dos voos para viajar para Portugal e Espanha, queixando-se que, "mesmo sem data, já são conhecidos os preços que vão ser aplicados".
"A emissão de novos passaportes, segundo o SAIME, terá um custo de 200 dólares (aproximadamente 171 euros). Eu quero renovar e para carimbar (estender) uma nova data de validade tenho que pagar 100 dólares (85 euros). É mais caro aqui que em qualquer outro país do mundo", disse José Freitas à Agência Lusa.
Segundo a imprensa local as "filas quilométricas" junto do SAIME multiplicaram-se um pouco por todo o país, mas principalmente em localidades fronteiriças com a Colômbia, entre elas o Estado de Táchira, onde "muitas pessoas passaram a noite" com a esperança de ser atendidas.
Na sua conta do Twitter o ministro venezuelano de Relações Interiores, Justiça e Paz, Néstor Reverol, anunciou que "em coordenação com o Conselho Nacional Eleitoral, para garantir o direito a votar dos venezuelanos" nas eleições parlamentares previstas para 6 de dezembro, o SAIME estava a realizar "uma jornada especial de emissão de cédulas, pré-eleitoral, nos principais escritórios do país".
A Venezuela iniciou hoje sete dias de "flexibilização ampla" da quarentena, durante os quais podem abrir os estabelecimentos de comércio em geral, turismo e organismos públicos, estando permitido o acesso às praias do país, atividades e eventos ao ar livre.
Na Venezuela estão confirmados 86.636 casos de covid-19, que causaram 731 mortes, enquanto 79.694 pessoas recuperaram da doença.
A Venezuela está desde 13 de março em estado de alerta, o que permite ao executivo decretar "decisões drásticas" para combater a pandemia.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 40 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.